O impacto das escolas de tempo integral foi o tópico central da conversa do último episódio do Conexão Sagres, que contou com a presença de dois especialistas sobre o tema.

“O desafio é o de colocar a escola, estudantes e professores em uma nova rotina pedagógica. Essa rotina tem como característica principal a extensão da carga horária e a inclusão de outros elementos formativos”, explica a gerente de educação integral da Secretaria Estadual de Educação de Goiás.

Para a professora, o modelo entrega avanços na formação curricular, além de ampliar oportunidades para alunos, sobretudo para estudantes de escolas públicas.

Impacto

Durante a entrevista para o Conexão Sagres, o coordenador regional de formação da União Nacional de Dirigentes Municipais (UNDIME), Marcelo Costa, destacou que as primeiras escolas de tempo integral surgem a partir da década de 1980.

Nesse sentido, segundo o professor, uma das preocupações mais urgentes no campo educacional é a forma como os alunos utilizam o conhecimento visto na sala de aula. Assim, para ele, o potencial da educação de tempo integral é o de trazer maior qualidade ao que é ensinado.

“Ele consegue aplicar esse conteúdo?”, é a perspectiva que Costa considera primordial. “A escola de tempo integral vem com a proposta de que o que falamos em sala com o ponto de vista de apresentar conteúdo, possa ser aplicado com o aluno em atividades diferenciadas”, complementa.

Modelo ideal

Para o professor, o modelo em tempo integral é o que deveria ser adotado como proposta única no país. Porém, destaca que condições estruturais e principalmente orçamentárias, afetam o futuro da política.

“O problema é que com o tamanho do país e dificuldades econômicas, sociais e de infraestrutura, é um processo que começou inverso. Começamos com 4 horas diárias e depois vamos ampliando essa jornada”, explica. Segundo ele, é preciso um esforço coletivo para viabilizar a construção de novas escolas. Além disso, possibilitar a transição de escolas que funcionam em tempo regular, mas que passam a adotar o tempo integral na rotina da instituição.

“Temos que conseguir ter condições de infraestrutura e políticas públicas que saem de trás das mesas e cheguem até as pessoas, para que o plano se constitua em verdade lá no chão da escola”, explica Marcelo Costa.

Desafios

“Transformar uma rede de tempo parcial em tempo integral é muito difícil. Quando a escola nasce integral, ela já nasce com infraestrutura, com pessoal e com a parte documental toda de uma escola em tempo integral”, ressalta o professor.

Sobre o assunto, a gerente de educação integral da Seduc Goiás, Alessandra Camargo, explica que o estado se inspira em políticas verificadas em outras regiões do país. Nesse sentido, Pernambuco e Ceará são considerados modelos na execução do tempo integral.

“Precisamos de um sistema colaborativo com o município. Desde a creche, se a gente tem uma rotina de tempo integral até o 6ª ano, esse aluno chega ao Ensino Médio com essa rotina mais resolvida”, explica Alessandra.

Cultura

O fortalecimento do ensino em tempo integral também envolve a própria confiança das comunidades neste formato de escolas. De acordo com Marcelo Costa, é preciso que as famílias enxerguem o tempo maior na escola como um investimento.

“Muitos diziam que a criança não poderia ficar esse tempo todo na escola. Ele tem que trabalhar, e a educação dizendo para os pais que o lugar da criança é na escola. Esse processo de convencimento vem se consolidando”, afirma.

“Em muitos casos, a família não teve condições de orientar essa criança porque a família não teve a formação necessária. Quando a escola se ocupa dos projetos de vida e do protagonismo juvenil, temos mais chances desses alunos chegarem ao final da etapa escolar mais preparados para o Ensino Superior”, explica.

Projeto de Vida

A partir do novo modelo para o Ensino Médio, oficializado pela Lei 13.415, o Projeto de Vida tornou-se um componente curricular do currículo geral dos estudantes da etapa.

“Desenvolvimento do protagonismo juvenil e de um projeto de vida que sejam capazes de ajudar as crianças a enfrentarem os desafios de formação”, é como o professor Marcelo Costa define o potencial de disciplinas extracurriculares durante a jornada escolar.

Nesse sentido, os especialistas defendem a proposta de um currículo integrado. Assim, segundo ele, escolas de tempo integral se dediquem na construção de um currículo que conecte competências da formação geral básica, proposta pela Base Nacional Comum Curricular, com as disciplinas diversificadas, como é o caso do Projeto de Vida e das disciplinas eletivas.

“Não são duas escolas emendadas. Mas, é importante que se tenha um tempo bem aproveitado, e que as crianças tenham atividades diferentes que consolidam o currículo no final do processo”, ressalta Marcelo Costa.

Leia mais: