A natureza é uma fonte de inspiração para a resolução de problemas que encontramos no dia a dia, desde os mais simples até os mais complexos. Seja na política, na economia, no esporte, a natureza nos ensina de diversas maneiras como lidar com determinadas situações de forma sustentável e tecnológica, baseado na ciência.

Comportamentos de animais e de plantas, por exemplo, servem como ideias para aplicação no nosso cotidiano. Daí surge o conceito de biomimética, que é uma ciência de observação da natureza, com o objetivo de se inspirar em seus processos para utilização no dia a dia da humanidade.

“A natureza é eficiente ao extremo. É uma forma de economia aplicada na sua forma maior. Existem muitos exemplos e aprendizados que a gente pode tomar a partir da natureza. Assim como temos o recurso financeiro, que envolve nossa economia, a natureza tem vários recursos, nutrientes, espaços, enfim, variáveis que são consideradas nesse processo”, comentou o mestre em biomimética, Ricardo Mastroti.

Nesta reportagem, explicaremos como a economia pode ser beneficiada quando aplicadas técnicas e modelos já existentes na natureza. Em Harare, capital do Zimbábue, um edifício foi projetado para se auto refrigerar, ou seja, se manter ventilado e fresco sem a necessidade de instalação de ar condicionado. A inspiração veio dos cupinzeiros africanos.

“Entendendo esse mecanismo de trocas de ar, porque o cupinzeiro não pode ter variação térmica de mais de 1º para não matar as larvas, o edifício circula o calor à noite para esquentar e durante o dia ele continua fazendo essa circulação para resfriar. Sem ar condicionado, o prédio tem 90% a menos de conta de luz”, exemplificou Ricardo.

(Eastgate Building em Harare, no Zimbábue | Foto: Reprodução/Condomínios Verdes)
Sistema de ventilação em um cupinzeiro | Foto: insecta2010.blogspot.com

Fachadas de prédios

Por falar em tecnologias prediais, um trabalho do departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM-RS) estudou a ‘biomimética como inspiração para fachadas brasileiras dinâmicas e eficientes‘.

Os autores são os acadêmicos da UFSC, Anna Clara Franzen De Nardin e Pedro Vinícius da Silva de Oliveira, e da UFSM a acadêmica Thaís Vogel e o professor doutor Marcos Alberto Oss Vaghetti. Eles analisaram que a fachada de uma construção tem relação direta com a eficiência energética, conforto térmico, acústico e visual. Uma das bases de comparação foi o próprio corpo humano, mais especificamente a pele humana.

A construção do Council House 2, em Melbourne, na Austrália, foi baseada no funcionamento da nossa pele. Uma segunda fachada foi feita, com estrutura de aço e painéis de madeira reaproveitada, que se abrem e fecham por sensores computadorizados conforme a quantidade de raios solares e a posição que eles incidem na fachada.

Enquanto isso, a segunda fachada é comparada no artigo com a nossa epiderme, que dá mais conforto térmico e visual, controla a ventilação e a entrada de luz natural. Já no topo do prédio, existem exaustores que sugam o ar quente por evaporação, o que reduz a temperatura interna do ambiente.

(Council House 2, em Melbourne, Austrália | Foto: melbourne.vic.gov.au)

De acordo com um estudo de Paevere, de 2008, após um ano da ocupação do prédio, concluiu-se que a produtividade da equipe melhorou 10,9% e houve uma economia de mais de US$ 2 milhões. A redução de emissões de gás carbônico ficou em 87%, o consumo de eletricidade, em 82%; gás, 87%, e água, 72%. As tecnologias economizam neste caso, por dia, US$ 5.479,45 em energia.

Essa busca por soluções sustentáveis é mais do que necessária. O sistema capitalista, por sua essência, é acumulativo. Apesar de existir esse fenômeno na natureza, como ocorre com os ursos, por exemplo, que se preparam para o inverno, existe um propósito, diferentemente do que ocorre com o nosso atual sistema de mercado.

“O crescimento indefinido não existe na natureza, tudo tem um limite. E na nossa economia, a tendência é pensar em crescer 10% neste ano, no outro também. Esse propósito, evidentemente para ficar mais rico, não é explicação para acumulação. Se você acumula muito, é porque em outro lugar está faltando”, ressaltou o mestre em biomimética.

Na próxima semana, você saberá como este assunto se conecta com as inovações, com um panorama sobre o futuro!

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