O crescimento urbano é um fenômeno visível ano após ano em todo o mundo. Só no Brasil, cerca de 160 milhões de pessoas vivem em cidades, segundo levantamentos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isso se reflete nas ruas, com o trânsito cada vez mais lento. Sendo assim, um grande desafio para os municípios é pensar em soluções para operação e qualidade de vida, levando em conta o grande número de pessoas que se deslocam por longas distâncias nos mesmos horários.

Considerando a urbanização, o mestre e doutor em biomimética, Amilton Arruda, explica como essa ciência pode ajudar no planejamento de cidades sustentáveis com apresentação de recursos específicos para a mobilidade. “A biomimética é um termo recente que foi institucionalizada há cerca de cinco ou dez anos. É um tema amplo, mas quando se fala de mobilidade e sustentabilidade, a biomimética faz um estudo e reflexão sobre a natureza e aplica soluções para o dia a dia. Não é imitá-la, mas avaliar e observar o que ela nos ensina”, afirma.

Sobre o tema, um concurso internacional tem incentivado a criação e desenvolvimento de projetos que façam a diferença em uma cidade sustentável. Em 2020, o concurso da Michelin deu o prêmio de primeiro lugar para o pernambucano Dayvid Almeida. Denominada Volkswagen Mut.E, a proposta foi inspirada na natureza e se destacou por seu designer biomimético.

Foto: Reprodução/Internet

“Foi um projeto desenvolvido pela Michelin Designer Challenge em 2020 com o tema UpCicle. A intenção foi aproximar a mobilidade de soluções de cidades inteligentes”, explica o jovem designer.

O protótipo de Dayvid foi inspirado no comportamento inteligente do polvo. Ele desenvolveu uma cápsula para uso individual, que é conectada por meio de aplicativo. “Essa cápsula se transforma em veículo e vai ao encontro da pessoa. Faz o transporte para o local desejado e assim que chega no destino final a cápsula se integra à arquitetura da cidade”, descreve.

Foto: Reprodução/Internet

O tema biomimética está incluso em matérias de alguns cursos universitários. Dayvid, por exemplo, estudou essa disciplina durante a vida acadêmica e conta que teve apoio dos professores na criação e desenvolvimento do projeto Volkswagen Mut.E. Contudo. No entanto, segundo o designer, o aprofundamento na matéria depende mais do aluno que do incentivo de professores.

“Penso que todo tipo de conhecimento obtido dentro da universidade é relevante. O ensino da biomimética nas faculdades ainda pode atingir um patamar melhor, mas também vai da capacidade do aluno de aproveitar aquela informação, mesmo que pareça mínima. Tive professores maravilhosos que me apresentaram a biomimética e, a partir daí, por interesse próprio, procurei projetos de mobilidade relacionados à biomimética”, relembra.

Grandes marcas, como Mercedez-Bens e Jaguar, já consideram a ciência na criação de modelos de automóveis sustentáveis. A Jaguar observa a natureza desde a década de 40 para desenvolver seus modelos. Em 1948, a empresa apresentou o XK120, um carro inspirado no animal jaguar e que lembrava o felino se preparando para realizar um ataque. À época, o veículo era o carro mais rápido do planeta e chegava a 193 quilômetros por hora.

Foto: divulgação Jaguar

Em 2010, a Mecedez apresentou o Car Fish, um carro biônico inspirado no Peixe-Cofre. De acordo com o texto de apresentação do veículo, “os engenheiros do Centro de Tecnologia Mercedes-Benz e o departamento de Pesquisa procuraram um exemplo específico na natureza que não apenas se aproximasse à ideia de um carro aerodinâmico, seguro, confortável e ambientalmente compatível em termos de detalhes, mas como um conjunto formal e estrutural”.

Foto: Divulgação Mercedes-Benz

Esses exemplos mostram o quanto a natureza tem a oferecer. Se tratando de sustentabilidade e mobilidade, a biomimética é um estudo capaz de apresentar soluções sustentáveis, como defende Amilton. “Estudiosos da natureza e de outras atividades, como biólogos, engenheiros e arquitetos, devem encontrar formas de compreender como a natureza se comporta em termos de mobilidade. Ela vive em equilíbrio, mas a cidade não. O descarte da natureza, por exemplo, é renovável e adaptável. Talvez o crescimento urbano precise entender, fazer uma análise e avaliar ambientes e ecossistemas naturais. Esses podem servir de inspiração para que, em um breve tempo, as cidades sejam mais sustentáveis”, argumenta.

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Na próxima semana, você verá mais detalhes de como esse assunto se conecta com a Política.

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