Jovens de Goiânia criam plástico biodegradável feito de amido de milho

Como você descarta seu lixo? Além gerar poluição visual, os resíduos dispensados de forma inadequada oferecem riscos para o meio ambiente e para nós humanos. Pensando nos problemas que cercam o consumo excessivo, a super produção de resíduos e o descarte irregular que alunos de uma escola de Goiânia se engajaram para conseguir ajudar o planeta de alguma forma.

Mas antes de conhecer essa história, vamos conferir alguns dados e curiosidades preocupantes sobre o lixo. Você sabia que grande parte do lixo produzido não é reciclado? Segundo dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em 2019, menos de 10% do resíduo plástico gerado foi reciclado.

Um problema de nível global

O problema é uma questão que preocupa autoridades mundo a fora, pois segundo a Organização das Nações Unidas (ONU) são gerados, a cada ano, cerca de 300 milhões de toneladas de lixo plástico em todo o planeta. Desse total, aproximadamente 8 milhões de toneladas vão parar nos oceanos, ameaçando a vida marinha e destruindo os ecossistemas naturais.

Outro ponto que devemos ressaltar é que o plástico demora mais de 400 anos para se decompor, e deixa resíduos que impactam o meio ambiente.

Criando alternativas

Todas essas questões foram expostas em sala de aula pela professora Thaiza Montine, para provocar uma reflexão dos alunos. Ao perceber a enorme produção de lixo gerado todos os dias, os estudantes da disciplina de Hub de Ciências da 2ª série do ensino médio se reuniram para traçar um plano.

Eles usaram os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, como base para criar uma alternativa sustentável. Os escolhidos foram os ODS 14 que fala sobre vida na água e o 15 sobre vida terrestre.

Foto: Palloma Rabêllo

E o projeto escolhido foi produzir um plástico biodegradável. Depois de pesquisar e testar diversas fórmulas, os alunos de 15 e 16 anos conseguiram produzir com sucesso um plástico usando amido de milho.

“Nossa ideia surgiu porque queríamos evitar o uso dos copos descartáveis convencionais na escola. Gostaríamos de algo para distribuir para os professores, funcionários e alunos. Depois de muitas pesquisas pensamos em criar o nosso próprio plástico e assim quem sabe o nosso corpo também”, disse a estudante Júlia Fernandes de Castro.

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A estudante Maria Eduarda Jardim explica como foi o processo até a criação da receita perfeita.

“Nós levamos cerca de dois meses até chegar na receita final. Trabalhamos com quatro formulações diferentes e dois tipos de amidos o de batata e de milho. Com isso, nós testamos como cada ingrediente reagia e assim conseguimos chegar na nossa receita ideal”, explicou a estudante.

Trabalho em equipe

A professora Thaiza Montine explica que apesar do projeto ser realizado sob a supervisão dela, a ideia é incentivar que os próprios alunos trabalhem em equipe e pensem as soluções para um futuro melhor.

“Nós trabalhamos com os ODS e as metas para ter um norte de para onde ir e quais são as necessidades da nossa sociedade atualmente. A proposta tem que vir dos alunos, com isso surgem problemáticas e eles precisam pensar em soluções. Meu dever como professora é orientar, mas incentivo que eles tomem as próprias decisões”, ressalta a professora.

Os estudantes estavam decididos a ajudar o planeta de alguma forma, realizaram muitos testes e durante eles conseguiram plásticos com texturas diferentes. Alguns mais consistentes e outros mais maleáveis até chegar no resultado.

“Produzimos alguns itens até agora são botões, divisões de fichário, brinquedos que grudam na parede, mas o nosso preferido e que fez sucesso na escola foi o glitter, pois além de não ser tóxico é biodegradável”, explica Maria Eduarda.

Futuro melhor

A consciência cidadã junto com a educação ambiental é a base para um futuro melhor. É fundamental educar com foco na sustentabilidade.

“Temos que lembrar, acima de tudo, que o futuro recente está nas mãos deles. Se a gente não trouxer essa problemática agora, pode ser tarde demais”, pontua Thaiza.

É fundamental conversar com as crianças sobre o meio ambiente e o que incentivar soluções para os problemas de descarte irregular e consumo excessivo.

“Eu acho muito necessário estudar sobre o meio ambiente, pois nós seremos os próximos adultos e tomaremos as próximas decisões.  Já sofremos com as consequências da degradação e se isso não melhorar a tendência é que os impactos ruis aumentam a cada dia. Então, acho que é super necessário essa educação, para abrir os olhos e sensibilizar as pessoas sobre esse assunto”, disse o estudante de 15 anos Gustavo Silva Abadia.

A Maria Eduarda já entende como a democratização da educação ambiental é importante para a nossa sociedade. “Acessibilidade quanto a essas informações é o básico para a gente conseguir uma mudança completa. Não basta que só a gente que estuda em um colégio privado tenha acesso a essas informações é preciso que todos saibam, aprendam e coloquem isso em prática para que as mudanças sejam concretas”, frisa.

Realidade próxima

Se a gente parar para observar a quantidade de lixo nas ruas de Goiânia, vamos pensar duas vezes antes de cometer um descarte inadequado. Temos o costume de acreditar que que essa realidade está distante, mas a verdade é que está mais próxima do que imaginamos. Existem pontos na cidade onde o acúmulo de resíduos sólidos de forma irregular é maior que em outras vias.

Foto: Fernando Leite/Comurg

Falta educação

Segundo os coletores da Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg) muito plástico, madeira, tecido, entulho, resto de alimentos e até móveis são encontrados nas ruas. Tudo isso, é jogado pelos próprios moradores.

“Já achamos cachorro morto, todo tipo de lixo que poderia ser reciclado. As pessoas não pensam assim, e apenas jogam nas ruas. É muito difícil para a gente e atrapalha o nosso trabalho; Muitas vezes, mesmo com todas as medidas de proteção, já machucamos e estamos sujeitos a adoecer”, contou o Adevaldo Rodrigues.

O funcionário da Comurg, Flávio Silva aprendeu durante seu trabalho de limpeza das ruas de Goiânia a importância de cuidar do nosso ambiente e descartar o lixo de forma correta.

“Em casa a gente separa o lixo, organizamos em uma sacolinha e amarramos para que outras pessoas não passem por esse desconforto. Juntos conseguimos melhorar a vida uns dos outros”, conta.

Pontos de descarte irregular

Foto: Fernando Leite/Comurg

O mais preocupante é que existem diversos pontos de descarte irregular em toda Goiânia, segundo informa a porta voz da Comurg, Hacksa Abrantes.

Atualmente, a Comurg mapeia 125 pontos de descarte irregular de lixo espalhados em várias regiões da cidade. Esses locais possuem um acúmulo grande de resíduos clandestinos descartados continuamente”, explica.

De acordo com a Companhia de Urbanização de Goiânia, por dia, cerca de 2.500 toneladas de lixo são recolhidas, contendo resíduos de construção civil, galhadas, materiais recicláveis e lixo orgânico.

“Por mês calculamos uma média de 54 mil toneladas desse tipo de resíduos descartados de forma irregular nas vias públicas” pontua Hacksa.

Ecopontos

Uma das medidas da prefeitura de Goiânia para evitar o descarte irregular de lixo nas ruas são os ecopontos. Eles aceitam diversos tipos de materiais recicláveis, exceto resíduos orgânicos.

A Prefeitura de Goiânia conta com ecopontos para recolher eletrodomésticos, móveis e materiais recicláveis. Ao todo existem quatro pontos funcionam e o cidadão não precisa pagar nada para deixar o resíduo ali.

Foto: Leonardo Rodrigues/ Comurg

Os locais têm espaço para receber descartes de materiais, como, pneus, sucatas, eletrodomésticos, resíduos de construção civil, móveis, materiais recicláveis, galhos e folha de árvores, eletrodomésticos e até óleo de cozinha.

As unidades estão localizadas nos bairros: Faiçalville, Campos Dourados, Jardim São José e Jardim Guanabara.

*Esse texto está alinhado com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 4 – Educação de Qualidade, 11 – Cidades e Comunidades Sustentáveis, 15- Vida Terrestre e 14-Vida na água, propostos pela Organização das Nações Unidas (ONU).

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