Uma pesquisa recente revelou a realidade e os desafios encontrados por educadores para levar a perspectiva antirracista para o dia a dia das escolas. Para 98% dos educadores a educação antirracista é importante. Destes, 85% dos profissionais sabem que existe uma lei que torna obrigatório o trabalho com as relações étnico-raciais. Em contrapartida, mais de 60% não sabem ou afirmam que não existem investimentos que apoiem esta prática.
Em entrevista ao Sistema Sagres de Comunicação, a professora e líder do Movimento Negro Unificado, Iêda Leal, afirmou que as políticas públicas que abordam o combate ao racismo precisam chegar a todas as esferas das escolas e da sociedade.
“O Brasil é o país de todas as pessoas, mas nós precisamos ainda abrir os olhos, a mente e o coração das pessoas para que elas possam compreender que racismo é crime. Para nós, negros, é um sofrimento, mas é necessário falar sobre e apontar caminhos dentro da educação para que não só professores e professoras, mas todos em uma escola consigam compreender a perversidade do racismo”, disse a professora.
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Iêda lembrou a importância da lei que obriga o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana nas escolas, criada para modificar o comportamento da sociedade brasileira e manifestar que o racismo se combate através de uma legislação séria. Para ela, tudo passa pela formação educacional das pessoas.
“Algo que eu tenho apostado, que acredito e que tem dado certo é investir na formação, mas uma formação mais adequada. Não podemos achar que falar sobre o 20 de novembro [Dia da Consciência Negra] seja suficiente. Todos precisam se envolver, desde a pessoa que abre o portão até a direção precisam estar engajados nesta causa”, reforçou.
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Além disso, deixar de ter uma educação eurocêntrica também é um caminho. “A escola precisa oferecer em todo o seu universo, em todas as disciplinas e durante todo o ano, reações que possamos compreender a história do negro e da importância do continente africano em nossos conteúdos, e também ensinar as pessoas a reagirem contra o racismo”, completou.
Novo governo
Recentemente, Iêda foi convidada para compor a equipe de transição no governo federal, sendo responsável pela área de Políticas de Igualdade Racial. Para ela, a educação não pode mais sofrer cortes orçamentários como ocorreu nos últimos quatro anos. Iêda argumentou que somente com mais investimentos na carreira de professor é que o jovem estudante vai se interessar em traçar o caminho profissional das salas de aula.
“Não podemos deixar que as pessoas retirem os investimentos da educação. Nós enquanto professores, pais, mães, alunos, alunas, precisamos lutar para que não sejam feitos cortes. Investir no professor, com melhoria de salários, condições de trabalho, fazer com que a carreira seja atrativa, são alguns caminhos possíveis. Só a partir daí é que podemos atrair o jovem de volta aos cursos de licenciatura, formando professores mais conscientes e felizes profissionalmente”, concluiu a professora.
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