A 28ª Parada do Orgulho LGBTQIAPN+ chegou a Goiânia na tarde deste domingo (25) com o tema “Transfobia Mata: Acolher, Proteger e Respeitar”. O evento transformou o centro da capital em um espaço de diversidade e discussão política em defesa de políticas públicas para a comunidade. Pela primeira vez na história, a Parada foi realizada com foco na sustentabilidade.

Com um palco montado na Praça Cívica, a concentração começou por volta de 12h. O palco foi aberto para falas, que se concentraram na defesa das políticas públicas de empregabilidade, combate à violência e apoio na conquista por direitos para a população trans.

Luciana Furquim, membro da Associação Brasileira de Lésbicas (ABL) ressaltou a importância da defesa dos direitos da população transexual. “As pessoas que mais morrem nessa população são as pessoas trans, que não chegam aos 40 anos, uma população que não consegue nem envelhecer”, destacou.

Parada Sustentável

Uma das principais novidades da Parada deste ano foi a campanha Lixo Zero que, em parceria com uma cooperativa local, promoveu coleta seletiva de materiais recicláveis produzidos durante o evento. “O objetivo da iniciativa é reforçar o compromisso da comunidade LGBTQIAPN+ com a sustentabilidade e preservação do meio ambiente. As necessidades do planeta são urgentes”, explicou Luciana.

Luciana Furquim, membro da Associação Brasileira de Lésbicas (ABL). (Foto: Lucas Xavier/Sagres)

Marcos Soares, que representou a deputada federal Adriana Accorsi (PT), considerou que a nova gestão do governo federal é um dos principais marcos da parada deste ano e destacou a importância da ocupação das ruas. “A Parada é o dia de celebrar o orgulho, é isso que está acontecendo hoje em Goiânia.”

Um dos organizadores da Parada, Fabrício Rosa celebrou o expressivo número de pessoas nas ruas e destacou a importância de um centro de apoio municipal, além de políticas públicas específicas. “Estamos orgulhosos, milhares de pessoas nas ruas exigindo respeito. Precisamos de uma casa de acolhida em Goiânia e de um orçamento específico para a população LGBT”, pontuou. A organização estima que cerca de 50 mil pessoas participaram do movimento.

Desafios históricos

Rogério Araújo, gerente de Diversidade Sexual de Goiás, comemorou a ocupação das ruas e lembrou a importância de fomentar políticas públicas e também da dificuldade de garantir a integração entre elas. “O grande desafio é pensar a implementação de políticas públicas em um estado muito conservador que muitas vezes encontra barreiras em outras instâncias”, avalia.

A professora Ana Rita, que é presidente do Conselho Estadual da Mulher de Goiás, reafirmou que a superação dessas barreiras históricas depende da importância da integração entre as políticas públicas. “As pessoas precisam entender que a vida precisa existir com todos os direitos, nós queremos direito à moradia, à educação, a população trans não consegue estar no mercado de trabalho, nós queremos mostrar que nós queremos estar nas políticas públicas”, afirmou.

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Goiânia foi a segunda cidade a ter Parada LGBTQIA+ no Brasil

O deputado estadual Mauro Rubem (PT) ressaltou a importância da Parada no estado de Goiás. “O objetivo central é exigir politicas publicas, que a constituição seja aplicada no dia a dia. Se Goiânia tem um dos piores indicadores violência contra LGBTs, ao mesmo tempo tem uma das maiores Paradas do Brasil, muita gente apoia e nós precisamos desmitificar que o estado de Goiás é atrasado, violento e homofóbico”, destacou o parlamentar.

A vereadora de Goiânia, Katia Maria (PT), afirma que as pessoas trans são serão tratadas como qualquer cidadão na Câmara Municipal e considera urgente a inclusão dessa população nas políticas públicas. “Essas pessoas precisam ser vistas nas políticas públicas, tanto no governo municipal, como estadual e federal, porque elas são sujeitos de direito como qualquer outra pessoa”, afirmou.

Ocupando as ruas

A escritora Beta Reis, de 32 anos, valoriza o número expressivo de pessoas nas ruas da capital. “É muito bom ver tanta gente na rua ocupando nosso espaço, mostrando que temos direitos de existir e resistir. Como pessoa trans, muitas vezes tenho dificuldade de usar banheiro, por exemplo, e momentos como esse são muito fundamentais para demarcar nossa luta”, avalia.

A escritora Beta Reis destaca importância das políticas públicas para a população trans (Foto: Lucas Xavier/Sagres)

Eloa Negrini, drag queen, de 29 anos, é de Brasília e fez questão de participar da 28ª Parada do Orgulho LGBTQIAPN+ de Goiânia, pela terceira vez. “Mais ano que está me surpreendendo, não era nem pra gente estar estar debatendo esse tema (transfobia), mas temos de lutar, por isso estamos firmes na defesa dos nossos direitos e acho que todos precisam ter o seu espaço”, destacou.

Eloà Negrini (à esquerda), mora em Brasília e viajou a Goiânia para participar da 28ª Parada do Orgulho LGBTQIAPN+ em Goiânia. (Foto: Lucas Xavier/Sagres)

Após os pronunciamentos, a Parada seguiu em caminhada pelas avenidas Araguaia, Paranaíba, Tocantins, até retornar à Praça Cívica. O trânsito em todas essas vias foi interditado durante a Parada e as linhas de ônibus foram desviadas. 

A 28ª Parada trouxe uma programação diversificada, que incluiu shows e performances de artistas locais, serviços de saúde, jurídicos e manifestações culturais. Além disso, estandes de organizações e movimentos sociais, forneceram informações sobre direitos, educação, assistência social e outros temas relevantes para a comunidade LGBTQIAPN+.

Nilton é professor em Brasília e viajou para participar da Parada em Goiânia. (Foto: Lucas/Xavier)

A segurança da Parada foi realizada em conjunto pela Polícia Militar de Goiás (PMGO), Corpo de Bombeiros Militar (CBMGO), Guarda Civil Metropolitana (GCM), Secretaria Municipal de Mobilidade (SMM), Agência Municipal do Meio Ambiente (AMMA) e outras autoridades locais. Além disso, a Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC) garantiu um reforço na operação dos ônibus nos Terminais Isidória e Praça da Bíblia, fazendo a conexão com a Praça Cívica.

Goiânia na linha de frente

A primeira Parada LGBTQIA+ do Brasil ocorreu em 25 de junho de 1995, no Rio de Janeiro. A data não é por acaso. No Brasil, a maior Parada do planeta acontece em São Paulo, na Avenida Paulista, que recebeu 4 milhões de pessoas em 2022. No entanto, o que pouca gente sabe é que Goiânia foi a segunda cidade brasileira a realizar o evento, em 1996. É o que conta o fundador da Associação da Parada do Orgulho LGBTQIAPN+ de Goiás, Marcos Silvério, no Conexão Sagres da última semana.

“Foi na Praça Cívica com nove militantes gays e 20 policiais para ‘garantir a segurança’. Existia uma intenção do movimento de envolver o Monumento Às Três Raças com a bandeira do arco-íris, mas tudo isso foi rechaçado pela polícia. O registro histórico que temos hoje é uma foto dessas [nove] pessoas de mãos dadas em volta do monumento”, relata Silvério.

Neste ano, entretanto, a Parada do Orgulho LGBTQIAPN+ em Goiânia espera reunir cerca de 100 mil pessoas. O evento acontece neste domingo (25) na Praça Cívica, a partir das 12h, e terá como tema “Transfobia Mata: Acolher, Proteger e Respeitar”. Além disso, a mobilização deve seguir à tarde em marcha, a partir das 16h, pelas Avenidas Araguaia, Paranaíba e Tocantins.

Primeira Parada do Orgulho LGBTQIA+ em Goiânia, em 1996, a segunda realizada no Brasil, contou com mais policiais do que manifestantes (Foto: Acervo/Memória UFG)

A luta da LGBTQIAPN+ por cidadania está alinhada com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 5, 10 e 11 da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU).