Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), junto aos dados de mortalidade dos brasileiros, permitiram a pesquisadores da USP calcular o impacto do consumo de ultraprocessados nesta população. O cruzamento de informações estimou que 57 mil pessoas morrem prematuramente a cada ano por consumirem alimentos ultraprocessados, o que corresponde a 10,5% de todas as mortes precoces de adultos entre 30 e 69 anos no Brasil.

A pesquisa

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define o conceito de morte prematura por doenças crônicas não transmissíveis. É levada em consideração a probabilidade de morrer entre 30 e 70 anos em decorrência de doenças cardiovasculares, câncer, diabete e doenças respiratórias crônicas.

Segundo o professor Leandro Rezende, um dos autores da pesquisa, filiado ao Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens) da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, já existem evidências suficientes nos estudos epidemiológicos que associam o aumento de consumo de ultraprocessados com o risco de se desenvolver as DCNT. Ele também inclui o excesso de peso e a obesidade devido à ingestão de ultraprocessados como fatores que contribuem para uma pessoa desenvolver essas doenças.

A metodologia do estudo envolveu o uso de dados abertos coletados por meio de questionários para avaliar o consumo de alimentos a partir de diferentes variáveis. O IBGE realiza essa enquete a cada dez anos.  Trata-se de uma série de perguntas para investigar o consumo alimentar individual por todo o País. O estudo faz parte de uma pesquisa ampla sobre o perfil dos orçamentos familiares. Os dados foram separados por faixas etárias, entre homens e mulheres, a partir dos 30 anos. Os pesquisadores avaliaram a ingestão das calorias diárias de cada grupo e quanto dessas calorias tiveram como fonte os alimentos ultraprocessados.

Aumento no consumo

Para o professor Eduardo Nilson, também pesquisador do Nupens e autor do artigo, as informações recentes – de 2017/2018 – mostram que houve um aumento de consumo de 20% de calorias vindas de ultraprocessados em relação ao mesmo tipo de levantamento realizado em 2007/2008, também pelo IBGE.

“O aumento de consumo de ultraprocessados está associado a 2 mil mortes evitáveis a cada ano. Contudo, para evitar esse aumento, o consumo deveria ter permanecido igual ao da década passada e não aumentado em 20%”, salientou.

Ainda segundo Eduardo Nilson, este aumento se deve a vários fatores, como as campanhas de marketing em torno desses alimentos e à subida de preços dos produtos frescos em relação aos ultraprocessados.

“A substituição aconteceu em todos os grupos da sociedade, independente da renda. Mas tem mais impacto na população vulnerável. O macarrão instantâneo e o biscoito recheado são alimentos-símbolo dessa situação”.

O artigo também calcula em diferentes cenários de diminuição do consumo de ultraprocessados, as mortes evitáveis. Aliás, com a redução para 10% das calorias diárias consumidas, 3.500 pessoas não morreriam de doenças crônicas ao longo do ano.

Com informações do Jornal USP*

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