”Quero viver mais duzentos anos, quero não ferir meu semelhante. Vamos precisar de todo mundo para construir a vida nova. Vamos precisar de muito amor, a felicidade mora ao lado, e quem não é tolo pode ver”.

O trecho acima foi retirado da canção ”Sal da Terra”, de Beto Guedes, música que dá nome ao projeto de autoria da professora Ana Geralda dos Santos. A ação teve início em 2017, em uma escola pública localizada na Vila Regina, região Noroeste de Goiânia.

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Professora há 32 anos, Ana Geralda deu vida ao Projeto Sal da Terra, que leva, no contraturno das atividades escolares e aos sábados, aulas gratuitas de ballet a estudantes de famílias em situação de vulnerabilidade social e econômica, e que não teriam condições de pagar por um curso de dança.

Além dos muros da escola

A ideia da professora era ir além da sala de aula, das disciplinas tradicionais, como Matemática e Português. Com a ajuda e incentivo de mães que compartilharam do mesmo desejo de levar arte aos pequenos, começava ali o sonho de proporcionar mais cultura a quem não tem acesso a esse tipo de experiência.

”Tenho uma paixão pelas artes e pelo ballet, que veio a se concretizar e mostrar a importância que isso tem, a necessidade de fazer essa arte chegar a todo mundo e ser acessível”, afirma a professora.

Mãe da Maria Clara, que tem síndrome de Down e que faz ballet desde os dois anos de idade, Ana Geralda viu na dança uma forma simples e pura de inclusão. ”Hoje minha filha está com 14 anos, é bailarina e ela se destaca na dança”, relata.

Uma das voluntárias do projeto é Danielly Vieira, mãe de Karine, de 5 anos. ”Foi muito importante para o desenvolvimento cognitivo e, principalmente, no desenvolvimento motor da minha filha”, comenta a mãe.

A Roseli Pires também trabalha no projeto como voluntária. Ela tem duas filhas que participam da iniciativa, sendo uma como bailarina. ”Foi uma experiência muito boa. Foram muitos anos de convivência com elas. Percebi que o projeto ajudava muito no comportamento, ajudava nas notas da escola. Era muito bom saber que todos os sábados tínhamos aquele compromisso”, lembra Roseli.

Compromisso que a filha de Roseli, Beatriz Pires, também ajudou a construir, dando aulas de dança. ”Recebi a oportunidade de dar aulas para as meninas e passar um pouco do que sei sobre ballet. A experiência antes de entrar no palco é a melhor do mundo. O projeto Sal da Terra abriu portas para todas nós, ajudou a ver esse lado da vida com experiências únicas”, enfatiza.

No ballet, o projeto Sal da Terra chegou a concretizar duas apresentações e atendeu 80 meninas e um menino, entre 5 e 13 anos de idade. Com o tempo, a iniciativa ganhou forças e começou a oferecer aulas de inglês.

Pandemia

No entanto, com a pandemia de Covid-19, a equipe ficou sem local para continuar funcionando. As turmas faziam as aulas em um espaço cedido pela Paróquia Nossa Senhora Rainha do Povo, no bairro Vila Regina, que precisou fechar para atividades presenciais em razão da necessidade de manter o distanciamento social.

Com dificuldades trazidas pela pandemia, as voluntárias do projeto começaram a arrecadar alimentos, produtos de limpeza e de higiene, brinquedos e roupas para as famílias que mais precisavam de suporte.

Desde então, com o fechamento das atividades, a professora Ana Geralda e sua equipe chegaram a realizar algumas aula on-line, mas nem todos os estudantes tinham acesso à internet. Com isso, os voluntários tiveram que abandonar as aulas, resultando em um esvaziamento do projeto. Hoje, para que possa ser retomado, a docente espera contar novamente com a solidariedade da comunidade.

”A gente precisa de um espaço. Não temos. Dependemos de voluntários para que a gente volte a ter um espaço físico. Agora estamos dialogando para tentar um novo espaço físico para, quem sabe, retornar com as aulas presenciais”, argumenta Ana Geralda.

Como a música de Beto Guedes, o projeto busca agora construir vida nova, mas precisa de todo mundo, como parcerias com a comunidade e com empresas, para continuar existindo. ”Estar na escola é importante, é através dela que a gente busca conquistar nossos sonhos. Toda criança, quando está feliz e tem a autoestima elevada, aprende muito mais”, conclui a professora.

Como ajudar

Quem quiser ajudar o projeto Sal da Terra pode entrar em contato pelo telefone (62) 98460-1216, que também é WhatsApp.

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