Nos últimos três anos, a quantidade de gelo no mar da Antártica tem registrado uma queda contínua. Pela terceira vez consecutiva, a extensão do gelo marinho diminuiu para menos de dois milhões de quilômetros quadrados. Segundo dados do Centro Nacional de Dados de Neve e Gelo (NSIDC), desde o início das medições por satélite em 1979, esse limiar não havia sido ultrapassado até 2022.

A Antártica atinge sua menor extensão de gelo marinho em fevereiro de cada ano, durante o pico do verão antártico, enquanto o máximo histórico ocorre geralmente em setembro. O recorde mínimo foi estabelecido em fevereiro do ano passado, totalizando 1,78 milhão de quilômetros quadrados.

Em 18 de fevereiro de 2024, a média de cinco dias da extensão do gelo marinho foi de 1,99 milhão de quilômetros quadrados, caindo para 1,98 milhão três dias depois. A confirmação do mínimo deste ano só será conhecida dentro de uma ou duas semanas.

“Mas acreditamos que os três anos mais baixos já registrados serão realmente os últimos três anos”, disse Will Hobbs, pesquisador do gelo marinho e oceanógrafo físico da Parceria do Programa Antártico Australiano.

Redução dos habitats

A diminuição do gelo marinho pode implicar na redução dos habitats de diversas espécies, como focas, pinguins e fitoplâncton, dentro do ecossistema. Outra preocupação decorrente da redução da extensão do gelo é a intensificação do aquecimento dos oceanos e, por consequência, do aquecimento global. O gelo marinho reflete a radiação solar, e essa diminuição pode acarretar perda de gelo também em áreas terrestres, contribuindo para o aumento global do nível do mar.

Embora os cientistas ainda não tenham certeza sobre a causa principal por trás do recorde de baixa extensão do gelo marinho, Walt Meier, cientista pesquisador sênior do NSIDC, afirmou que “o aquecimento global certamente pode ser um fator”.

Outros elementos, como padrões de vento, podem também estar influenciando. “Temos apenas 45 anos de dados de alta qualidade, que ainda podem não capturar toda a variabilidade do gelo marinho da Antártida. No entanto, desde 2016, o gelo marinho da Antártica tem estado muito abaixo do normal, com mínimos recordes às vezes”, disse Meier.

Crescimento e derretimento

Em uma entrevista ao The Guardian, Meier observou que o crescimento do gelo após o derretimento do verão é relativamente fino, com apenas 1 a 2 metros de espessura. “Com o máximo muito baixo em setembro passado, o gelo era provavelmente mais fino, em média, em muitas áreas, mas é difícil dizer qual o efeito que teve na taxa de derretimento e no mínimo que se aproxima”, disse Meier.

Enquanto a pesquisa sobre a diminuição do gelo marinho da Antártica continua, os cientistas estão preocupados com o papel potencial do aquecimento global, especialmente do Oceano Antártico.

No ano passado, um estudo liderado por Ariaan Purich, cientista climático da Universidade Monash, especializado no Oceano Antártico e na Antártica, sugeriu que o gelo marinho antártico pode ter passado por uma “mudança de regime”, possivelmente impulsionada pelo aquecimento do oceano em uma profundidade de cerca de 100 metros.

“O que precisamos é de medições sustentadas da temperatura e salinidade do oceano sob o gelo marinho. Precisamos de melhorias nos nossos modelos climáticos. E precisamos de tempo”, alerta Will Hobbs.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 13 – Ação Global Contra a Mudança Climática

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