Ronaldo Caixeta, de 52 anos, foi diagnosticado com paralisia infantil e usa cadeira de rodas há cerca de 14 anos. Apaixonado por futebol, torce para o Goiás desde 1988 e sempre gostou de ir ao estádio. Hábito que tem diminuído com frequência já que o aposentado vê muita falta de acessibilidade nas ruas e também nos locais esportivos.

O artigo 4º da Lei Nº 8966, de 18 de outubro de 2010, prevê que os estádios de futebol e ginásios esportivos são “obrigados a criar e manter locais de acesso e acomodação reservados exclusivamente para a pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida”. Mas, na prática, isso acontece? Para analisar o nível de acessibilidade nos estádios dos times da capital goiana, levamos Ronaldo para três experiências – Hailé Pinheiro, Onésio Brasileiro Alvarenga e Antônio Accioly. A primeira foi no Goiás Esporte Clube, durante o confronto com o Coritiba pela 20ª rodada da Série A.

Entrada

Para adentrar ao estádio, Ronaldo teve que passar pela entrada do Tobogã da Força, já que é por lá o local destinado para os cadeirantes. Esse acesso fez com que Ronaldo não tivesse dificuldades para passar. No entanto, depois de entrar ele se perdeu um pouco na localização da área do cadeirante.

“Eu considero que foi tranquilo [entrar]. A calçada tem um certo aclive, mas eu consegui tocar a cadeira sem auxílio, assim como foi tranquilo a portinha de acesso”, comentou Ronaldo.

Área exclusiva para cadeirante

Já o espaço no qual ficou a maior parte do jogo, Ronaldo teceu críticas por conta do posicionamento, visão e também a falta de cobertura. Isso porque há uma grade e uma tela de proteção que dificultam a visualização da partida por estarem localizadas na altura dos olhos do nosso entrevistado.

Esta é a visão que Ronaldo tem do campo no local reservado para os cadeirantes.
A tela de proteção fica na altura dos seus olhos (Foto: Sagres Online)

“A visão não é nada privilegiada. A gente fica em uma posição muito verticalizada em relação ao campo, de modo que a parte de fundo nós não temos uma visão plena do que está acontecendo”, e completou: “A tela de proteção e a estrutura metálica interferem muito na visão do jogo, a gente não consegue entender o sistema tático nem nada”, reclamou Ronaldo.

Por conta disso, o torcedor teve que recorrer ao celular para ouvir a partida. Pelo YouTube, Ronaldo conseguiu ter uma noção melhor do que estava rolando no jogo entre Goiás x Coritiba. Além disso, a área não é coberta, se chover, molha, caso não se afaste, e se fizer muito sol fica no rosto do torcedor.

“Ali tem muito sol e o pôr do sol fica justamente de frente pra gente, isso atrapalha bastante. E se chover também a gente não tem como ver a partida”, reiterou Ronaldo.

A reclamação sobre este local também veio por parte da filha do torcedor, Maria Gabriela. Ela e mãe estavam assistindo a partida pelas cadeiras, justamente por não ter local confortável para os acompanhantes. “É muito triste porque este é um momento que era para ser em família, pra gente conseguir assistir ao jogo do Verdão, mas infelizmente ele precisa ficar em uma parte separada de nós”, relatou a filha.

Banheiro e lanchonete

Apesar da experiência ruim assistindo ao jogo, a ida ao banheiro não foi muito complicada. Ronaldo destacou que há adaptação (básica) para os cadeirantes e que funciona. Essa adaptação inclui pia abaixada e as barras para segurar.

A lanchonete do mesmo jeito. Ronaldo conseguiu comprar o salgado e não teve problemas durante o atendimento ou no pagamento. A único ‘porém’ foi a distância, “mas tudo certo”, comentou Ronaldo.

Ronaldo Caixeta, torcedor do Goiás (Foto: Sagres Online)
Avaliações finais

Após a vitória do Goiás sobre o Coritiba por 1×0 com o gol marcado por Pedro Raúl, Ronaldo Caixeta deu suas impressões finais sobre o Estádio Hailé Pinheiro.

“Há certa facilidade no acesso, não há muito problema na acessibilidade. Há um pequeno declive nessas instalações, pode ser que um ou outro cadeirante precise de alguma ajuda com a cadeira de rodas. Eu consegui me deslocar bem aqui dentro, consegui ir ao banheiro, conseguir ir à lanchonete”, ressaltou.

No entanto, Ronaldo voltou a falar sobre as grades e telas de proteção. “Sobre a posição na área reservada para o deficiente, o pessoal tem que levar em conta que quem está em uma cadeira de rodas tem uma visão muito mais baixa do que quem está de pé. Então, todo este material de proteção interfere na visão do jogo, além da posição dessa área para cadeirante que é muito diagonal. Não conseguimos ver a parte mais distante do campo”, reforçou.

Ronaldo, inclusive, não conseguiu ver o gol do Pedro Raúl, já que foi marcado pelo lado dos vestiários. Apesar da experiência negativa ao ver o jogo, o aposentado destacou que no geral, a Serrinha foi “muito boa”.

Em contato com Goiás, o clube mencionou que as telas de proteção foram determinação do Corpo de Bombeiros. Já em relação ao espaço, ainda terá uma ampliação. Entretanto, a área reservada para cadeirantes, até o momento, é apenas ao lado do Tobogã da Força Jovem. O clube salientou que há acessibilidade para o cadeirante transitar por toda Serrinha.

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