O continente europeu atravessa um dos seus piores momentos no século. Profundamente afetado pela Guerra na Ucrânia, a União Europeia se vê fragilizada diante das repercussões do conflito – que parece longe de um desfecho após sete meses desde a invasão russa -, em especial no setor energético, próximo de um colapso.
Maior fornecedora de gás natural e petróleo para os países do bloco, a Rússia respondeu aos boicotes e sanções, sofridos desde o início da invasão, com drásticos cortes e aumentos da principal fonte de energia da Europa Central. A última alta dos preços aconteceu nessa semana, após o governo Putin anunciar mobilização militar.
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De forma a amenizar o impacto do custo para os consumidores, quase 500 bilhões de euros (mais de R$ 2,5 trilhões) foram destinados pela União Europeia e pelo Reino Unido. A inflação, que já preocupava antes da guerra, se agravou desde o início do conflito e tem atingido níveis recordes em muitos países desde a criação do euro.
Diante do cenário incerto e as divergências econômicas entre os membros da UE, a crise tem levado o setor energético europeu ao colapso, com aumento de mais de 200% nos preços em relação a 2021. Sem o repasse ao consumidor consumidor, as distribuidoras estão em estado administrativo crítico.
Passo atrás na sustentabilidade
Com o inverno batendo à porta, a oferta de energia está cada vez mais escassa e difícil na Europa. Devido a alta demanda, a produção através de combustíveis fósseis voltou à tona em muitos países, com as usinas termelétricas. A procura por soluções sustentáveis, que caminhava a passos lentos desde a pandemia, desapareceu.
Realizada na última semana, a Assembleia Geral da ONU teve a pauta climática ofuscada pela Guerra na Ucrânia. Uma possível alternativa ao gás e petróleo russo, a energia renovável é insuficiente na União Europeia, e diante da crise energética, o interesse por investimentos focados na sustentabilidade não empolga.
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O exemplo positivo do futebol
Por outro lado, se os governos recuaram em seus projetos sustentáveis, o futebol faz o caminho inverso. Ciente da situação calamitosa na Alemanha, o Bayern de Munique acelerou a adaptação da sua estrutura para reduzir o consumo e, em breve, produzir energia renovável em seu estádio.
Alinhado ao Pacto Global da ONU, o clube bávaro iniciou a temporada 2022/23 com diversas novidades para os 75 mil torcedores que frequentam a imponente Allianz Arena. A pioneira iluminação externa do estádio, a primeira no mundo, inaugurada em 2005, deixou de funcionar por seis horas à noite para apenas três.
Entre outras mudanças, a climatização da arena também foi reduzida, e os banheiros passaram a ter apenas água fria. Já o aquecimento do gramado passou a ser realizado através de um aquecedor de ar elétrico, e a intenção do clube é que a energia consumida seja fornecida por painéis solares instalados no próprio estádio.
Já na Itália, onde a inflação atingiu seu maior valor (8,4%) em mais de três décadas, a situação tampouco é animadora, diante do elevado custo da energia após os aumentos da Rússia, principal fornecedora de gás natural para o país. Visando economizar energia no país, o Conselho de Ministros italiano impôs diversas medidas.
As repercussões do decreto levaram a Lega Serie A, responsável pela primeira divisão do Campeonato Italiano, a estabelecer as suas próprias orientações aos clubes em relação ao consumo de energia. Outrora sem regras sobre o tempo de iluminação nos estádios, a liga determinou que as luzes fiquem acesas por no máximo quatro horas.
“Temos que ser exemplo”, destacou Lorenzo Casini, presidente da liga, à Ansa. Segundo o dirigente, a redução no tempo de iluminação é “apenas o primeiro passo”, e que a Serie A trabalha com outros caminhos para que os jogos do campeonato consumam menos energia, e que painéis solares sejam instalados nos estádios.