Ao longo dos anos o futebol passou por muitas mudanças e aos poucos têm se adaptado às alterações climáticas. Com o aquecimento global, o calor fica cada vez mais forte e a prática esportiva ao ar livre se torna cada vez mais difícil, principalmente em partidas disputadas durante o dia. Diego, volante do Goiás, está disputando a Série A do Campeonato Brasileiro revela as dificuldades de jogar embaixo do sol escaldante. Assista à reportagem a seguir

Diego, volante do Goiás Esporte Clube (Foto: Rosiron Rodrigues/GEC)

“A diferença é enorme, porque o calor a gente se desgasta muito mais, transpira muito mais e tem que fazer muito mais esforço. Particularmente gosto muito de jogar à noite, é mais fresco a gente se desgasta menos e não tem aquela “quentura” toda do sol durante o dia. Uma partida às quatro horas da tarde é totalmente diferente de uma partida às oito da noite, onde o desgaste é bem menor do que de dia”, afirma. 

Para o atleta, a temperatura elevada interfere no rendimento durante uma partida de futebol. De toda forma, ele entende que o atleta precisa estar preparado.

“Isso influencia muito na partida e no nosso desempenho dentro de campo. Mas creio que atletas de futebol não têm que olhar muito para isso, porque não tem como escolhemos, temos que dar o nosso melhor sempre, seja no sol, seja na chuva, de dia ou de noite, temos que estar preparados”, conclui.

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Horário x temperatura   

Para alavancar a audiência da TV e o público nos estádios, desde 2015, algumas partidas do Campeonato Brasileiro acontecem às 11 da manhã. Dessa forma, os jogadores precisam ter um bom preparo físico para manter o rendimento nesse horário diferente. Juvenilson Souza, preparador físico do Vila Nova, destaca que às 11 da manhã não é o melhor momento para praticar exercícios. 

Juvenilson Souza, preparador físico do Vila Nova (Foto: Sagres Online)

“Esse horário realmente não é o melhor para a performance física. Porque o futebol não é só o rendimento físico, o futebol também tem organização tática e rendimento técnico. Eu tô falando especificamente de rendimento físico, seja para jogar futebol, para correr uma maratona ou para nadar, esse não é um horário para altas performances, principalmente em ambientes externos, em que você tem influência do calor ou do frio”, frisa. 

Uma das estratégias para driblar os efeitos do calor são as paradas técnicas durante as partidas realizadas durante o dia e sob sol forte.

“Momentaneamente é uma estratégia interessante, principalmente em relação às temperaturas elevadas. Quando você também tem umidade elevada isso é pior ainda, porque a troca de calor com o ambiente externo, através de processos fisiológicos como a evaporação fica mais difícil. Então, consequentemente o corpo, para controlar a sua temperatura e não ter uma elevação de temperatura e problemas de desmaios, tontura ou qualquer coisa nesse sentido, o organismo paga um preço muito alto em relação a isso. Consequentemente o resultado é queda de rendimento”, salienta.

Outros aspecto é a utilização de alguns itens, por exemplo, toalhas geladas que ajudam a aliviar o calor para que o rendimento dentro de campo não seja afetado.

“As paradas técnicas, são importantes porque naquele período você consegue resfriar um pouco o corpo, principalmente usando toalhas geladas, para que o organismo possa ter um reequilíbrio dessa temperatura, momentaneamente isso melhora, mas ao longo do jogo volta-se ao “caos” anterior à parada”, completa. 

Tempo seco

Não é só o horário do jogo que afeta o desempenho do atleta, o clima diferente também prejudica. Na partida entre Vila Nova e Toledo, pelo Brasileirão Feminino, as paranaenses sentiram os efeitos do tempo quente e seco aqui em Goiânia.

“No aquecimento eu já estava morrendo, todas as meninas. Aqui é muito quente. Até perguntei para o juiz se ia ter a parada no segundo tempo, porque não tinha condições. Sentimos muito (o calor), todo mundo sentiu”, revela Duda, meia do Toledo.

Duda, meia do Toledo (Foto: Sagres Online)

“Quando jogamos em cidades que faz calor, para a gente não atrapalha tanto. Hoje o tempo estava muito seco e nós estávamos com a boca secando toda hora, mas isso não nos prejudicou, prejudicou nossas adversárias. Elas ficaram o tempo todo reclamando do clima seco”, explica Samara, meia do Vila Nova. 

Samara, meia do Vila Nova (Foto: Sagres Online)

Tecnologia 

Com mais de 20 anos de experiência no futebol, Juvenilson ressalta que as equipes trabalham pesado e a comissão técnica se atualiza para trabalhar com cada atleta.   

“A maioria dos clubes hoje têm uma tecnologia avançada de monitoramento, com recursos de GPS. Assim, conseguimos monitorar tanto o treinamento, quanto os jogos, e a gente percebe que a temperatura elevada ou a umidade também é elevada, são fatores que interferem diretamente nas variáveis de demanda física”, destaca. 

“Consequentemente isso acaba influenciando na tomada de decisão do atleta, na execução da questão técnica, no comportamento tático e na questão emocional. Enfim, tudo isso está interligado e um depende do outro e muitas vezes a gente tem jogos de baixa qualidade também por isso”, conclui. 

Qatar 2022  

Esse ano tem Copa do Mundo. O país escolhido foi o Qatar, no Oriente Médio, onde as temperaturas chegam a 50 graus no verão. Para evitar as altas temperaturas, o calendário mudou para novembro e dezembro. Juvenilson trabalhou no futebol árabe e sabe que é preciso tomar algumas medidas para jogar em países quentes.

(Foto: Divulgação/Qatar)

“No mundo árabe, em geral, você joga no final do dia ou à noite, porque a temperatura é muito alta, passa de 40 graus. Com a temperatura acima de 35 graus, já é algo bem desgastante e influencia muito na performance do atleta”, revela.

“Têm vários trabalhos que mostram isso, que com temperaturas nesses níveis o desempenho em termos de distância percorrida e distância em alta velocidade, que algo que o futebol exige, diminui drasticamente. Nos jogos à noite, as temperaturas são menos elevadas, mesmo no verão, e isso potencializa um pouco mais a performance dos atletas”, pontua.  

Além de mudar o calendário da Copa, o Qatar prometeu instalar ar-condicionado nos estádios. A novidade tecnológica, se funcionar e não queimar petróleo, poderá ser replicada mundo afora. 

“Acho que será uma experiência bastante interessante, vamos ver os resultados, como isso vai ser avaliado, quais serão prognósticos do que será realizado na Copa do Mundo que é uma grande referência para o mundo do esporte, especialmente para o futebol. Acredito que no Brasil o futebol tem evoluído, as pessoas que coordenam têm buscado melhorar essa condição e eu espero que em um futuro próximo a gente possa ter todas as condições mais favoráveis possíveis para os nossos atletas”, afirma.

“Sabemos que isso requer altos investimentos financeiros, porque precisamos ter estádios nesta condição, mas se isso for benéfico é necessário que a gente possa buscar essa tecnologia o mais rápido possível para facilitar e favorecer a performance dos nossos atletas e, consequentemente, um jogo de mais qualidade”, projeta.

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Repense

Esta reportagem integra a série Repense Clima desenvolvida pelo Sistema Sagres de Comunicação com o apoio da Fundação Pró Cerrado. Ao longo de 12 episódios vamos aprofundar sobre temas relativos à sustentabilidade, produção e consumo, que estão conectados ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 13 da Organização das Nações Unidas (ONU), que é “Ação Contra a Mudança Global do Clima”.