Pense em quanto lixo você produz semanalmente. Quantos sacos e sacos deixa para os coletores pegarem na porta de sua casa. Restos orgânicos, garrafas de refrigerante, pilhas, máscaras de proteção facial, papel higiênico, objetos que estragam e se quebram.

Você separa esses resíduos ou junta tudo dentro de uma sacola e deixa para o caminhão pegar? Se você faz a separação correta pelo tipo de material, parabéns!

Você faz parte de um grupo ínfimo que está ajudando o planeta a ser um lugar menos tóxico e nocivo para todos. Mas se mistura tudo, não precisa se sentir culpado sozinho. A maioria das pessoas faz o mesmo. Mas saiba que é preciso mudar os hábitos.

“O aterro sanitário de Goiânia é controlado. Foram feitas adequações técnicas e estruturais para conter o chorume, para queimar o gás metano e fazer um controle da contaminação do lençol freático. Foi uma remediação, não foi uma obra bem-feita. Está em desconformidade em alguns aspectos”, afirma o engenheiro ambiental André Baleeiro.

Segundo Baleeiro, o depósito de todo o tipo de lixo diariamente no aterro contamina o lençol freático, se tornando uma preocupação para toda a região do entorno.

“O aterro é a junção de todos os tipos de lixo. O resíduo orgânico une seu líquido, o chorume, com pilhas, remédios, lâmpadas fluorescentes e outros metais pesados e sais que contém toxicidade e se torna um líquido contaminante terrível. Muito em breve vamos ver as consequências disso para o planeta”, explica.

Resíduos não separados em lixeira na cidade. Reprodução Sagres TV

A poluição, no entanto, não é o único problema. O aterro sanitário de Goiânia foi fundado em 1993 e fica localizado às margens da rodovia GO-060. Com uma média mensal de 45 mil toneladas de resíduos sólidos depositados em seus 44 mil m2, a estimativa é de que sua capacidade máxima, em breve, seja excedida, como explica o vice-presidente da Comurg, Alisson Borges.

“O aterro tem aproximadamente 20 anos de vida útil ainda. Nós acabamos de inaugurar lá uma área de expansão. Foi bem trabalhoso o processo, uma vez que havia uma linha de alta-tensão que passava por cima. Tivemos que unir forças com a Enel para mudar essa rede de lugar e conseguirmos fazer essa área de expansão. Hoje, da forma como estamos operando o aterro sanitário, temos uma vida útil de 20 anos. Ainda não conseguimos montar uma estação de triagem, que é um plano para 2022, e, se isso for efetivado, a vida útil do aterro passa a ser uns 80 anos”, informa Borges.

Reaproveitamento e reciclagem

Por isso que separar o que se descarta é tão importante. O aterro é feito para comportar apenas 10% de todo lixo que produzimos, mas não é o que ocorre na realidade. Apenas 5% de tudo que descartamos vai para as cooperativas de reciclagem, os outros 95% são despejados no local. É pensando em como reduzir os danos disso para a sociedade, que funciona o Movimento Lixo Zero.

“O Lixo Zero tenta promover a eficiência e eficácia. É um método visionário, um conceito que traz um estilo de vida, que tenta desviar do aterro sanitário 90% dos recicláveis e orgânicos”, explica Raquel Pires, coordenadora do movimento em Goiânia.

A Raquel mostra que até bituca de cigarro pode ser reaproveitada. “A gente pega várias bitucas de cigarro e encaminha para a única indústria do mundo que faz esse tipo de tratamento e ela é transformada em uma massa celulósica que, posteriormente, é transformada em papel para artesanato. Esse papel vai chegar em alguma entidade, que recebeu treinamento para fazer um trabalho artístico, e transformar isso em renda para instituição”, conta.

Uma outra iniciativa de Raquel, e também de seus vizinhos, é o ponto de coleta seletiva instalada na rua da casa dela. Assim, os vizinhos que não estão em casa na hora que o caminhão passa, podem deixar seus materiais recicláveis para os coletores pegarem.

Raquel mora há 30 anos em uma rua no Setor Leste Vila Nova, em Goiânia. Amiga de todos os vizinhos, ela conta que eles separavam os recicláveis, mas nem sempre estavam em casa quando o caminhão da coleta seletiva passava para pegar o material.

“Como a gente não tem mais os pontos de entrega voluntária na cidade, a gente trouxe uma solução com um parceiro nosso, seu Claudiomar, que é uma caixa coletora de recicláveis. Todo mundo da rua consegue utilizar. A coleta seletiva já passa e leva o material de todo mundo”, relata.

A reciclagem é tão importante, que não ajuda apenas o meio ambiente, mas também é uma maneira de muitas famílias encontrarem o sustento. É o caso do seu Antonio Vieira Gomes, de 74 anos, que ficou doente e só conseguiu comprar os remédios por conta do trabalho com material reciclável.

“Eu estive doente, com dengue, e quase morro. Aí peguei o dinheiro que ganho com os papelões e comprei remédio. Foi muito bom, pois chegou na hora certa”, comentou. Antônio explicou que começou a catar papelções, latinhas e plásticos há aproximadamente um ano, o que também passou a ajudá-lo no sustento de casa.

Ele conta que a cooperativa que compra seu material pega todo o material na casa dele. “Quando dá uns 15 bags desse, eles vão na minha casa. O papelão estava a um preço bom, mas agora baixou e está a R$ 35 o quilo. Agora as garrafas de plástico, eu separo, e eles pagam cerca de R$ 80 o quilo”, explica.

Repense

Esta reportagem integra a série Repense Consumo desenvolvida pelo Sistema Sagres com o apoio da Fundação Pró Cerrado. Ao longo de 12 episódios vamos aprofundar sobre temas relativos a sustentabilidade, a produção e consumo, que estão conectados ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável – ODS 12 da Organização das Nações Unidas (ONU), que é “Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis”.

Todo domingo você acompanha uma nova reportagem e ao longo da semana, em nossa programação, são organizados fóruns de debate com especialistas e jovens aprendizes de todo o Brasil.

#1 | Destino do Lixo: Sustentabilidade pode salvar aterro sanitário de Goiânia do esgotamento

#2 | O recurso que vem do lixo: Reaproveitamento de matéria orgânica é fonte de geração de energia limpa

#3 | Separação e reciclagem do lixo podem deixar cidade menos tóxica e mais sustentável

Assista ao Arena Repense