Barulho! Muita fumaça! Horas do dia perdidas no engarrafamento. O geógrafo João Paulo Fonseca não quis mais saber do carro. Pensando em melhorar a qualidade de vida, passou a andar em Goiânia de bicicleta a partir de 2006. Estresse com o trânsito ele não tem mais. O interesse pelas duas rodas se tornou um estilo de vida e virou tema de seu mestrado. Assista à reportagem a seguir

“Há uma questão de uma afinidade, um hobby, e a partir disso eu comecei a estudar a ciclo mobilidade. Durante a pós-graduação em Geografia eu decidi prosseguir com esse tema, com essa pesquisa”, contou João Paulo.

Durante os estudos, ele realizou uma espécie de diagnóstico da infraestrutura cicloviária que existe em Goiânia. “A pesquisa foi concluída no início de 2019 e o que percebi é que existe uma grande discrepância em relação às vias destinadas aos veículos automotores e as vias destinadas à circulação dos ciclistas”, relatou.

O geógrafo concluiu que Goiânia possuía, à época, seis mil quilômetros de vias asfaltadas para a circulação de automóveis. E, considerando as diferentes infraestruturas, como ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas, Goiânia possuía apenas 100 quilômetros de extensão.

Excesso de veículos

Goiás tem 6,5 milhões de habitantes e aproximadamente 3,7 milhões de automóveis, o que significa mais de um veículo para cada duas pessoas. Só em Goiânia tem quase um 1,3 milhão de veículos, segundo levantamento feito, em 2020, pela  Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran).

Para o perito em trânsito Antenor Pinheiro, a equação é simples. “Você tem, enquanto gestor público, cada vez mais que trabalhar para que possamos abrir mão do transporte individual motorizado em favor do transporte público coletivo, em favor dos sistemas cicloviários integrados, dos modos coletivos de deslocamento, em favor de melhorar os cenários e paisagens da acessibilidade universal, porque as nossas calçadas vão muito mal também”, pontuou.

Antenor reforçou a importância de se fazer cumprir as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana, que incentivam meios de transporte não motorizados e o transporte público, formas mais favoráveis para o meio ambiente e saúde. “É preciso investir na qualidade dos sistemas de transportes coletivos, melhorando e expandindo as malhas cicloviárias para que a bicicleta seja vista como meio de transporte e não apenas como equipamento de esporte e lazer”, afirmou o perito.

Além disso, também deve-se melhorar a qualidade das calçadas para aprimorar a percepção de inclusão social, já que muitas pessoas não saem às ruas por não terem condições de caminhar com cadeiras de rodas e muletas.

Carros elétricos

Uma alternativa, mas ainda pouco acessível para a população, é o carro elétrico. No Brasil há um registro de quase 6 mil veículos deste tipo. Um dos motivos: o alto custo. Um veículo elétrico barato, no mercado, custa em torno de R$ 150 mil.

Para o vice-presidente da Associação Brasileira de Proprietários de Veículos Elétricos Inovadores (Abravei), Rodrigo de Almeida, é preciso atrair investimentos de montadoras para produzirem os automóveis no Brasil. “Não só ajudará a baixar o preço um pouco, porque não será muito, como vai permitir desenvolver toda uma cadeia de valor, de fornecedores, de mão de obra e vai qualificar o país”, afirmou.

Rodrigo ainda aponta que veículos elétricos, além de serem zero emissão de gases poluentes, produzem muito menos poluição sonora. “Um veículo elétrico, como ônibus, já possui duas grandes diferenças em relação ao seu equivalente em combustão: não tem vibração e o silêncio. Existe um mínimo de ruído, mas é desprezível”, informou.

E, acredite, as baterias usadas nos veículos elétricos são sustentáveis. “Hoje, como as baterias ainda são novas, elas duram muito. Não temos ainda muita demanda para reciclagem. Mas o que acontecerá com uma boa parte das baterias? Quando ela tiver com uma capacidade que não atende ao veículo automotivo, ela provavelmente será usada para armazenamento de energia em sistemas fotovoltaicos off grid ou híbridos”.

No entanto, ele ressalta que é necessário ter mais baterias e mais demanda para que sejam reutilizadas em energias fotovoltaicas e, posteriormente, recicladas. “Quando a bateria já tiver esgotado, irá para a reciclagem propriamente dita”, disse Rodrigo de Almeida.

Outras alternativas

Para o perito Antenor, há muitas outras alternativas sustentáveis, mais baratas e nacionais para o transporte. Isso poderá baratear os produtos para os consumidores nacionais, além de oferecer um produto mais competitivo e “mais politicamente correto do ponto de vista ambiental”. O que significa também mais riqueza.

“Temos toda uma riqueza, todo um patrimônio que nos permite trabalhar esses elementos combustíveis mais verdes, com a biomassa e aprofundar pesquisas com a utilização de células a combustível, nós podemos não só encurtar nosso caminho para fazer uma produção alternativa e sustentável”, observou.

Enquanto não pensarmos no coletivo, será mais difícil ter um trânsito menos poluente e com mais mobilidade. “O número de veículos por habitante aqui é muito alto. Nós temos uma frota superior a um milhão de veículos em Goiânia. Essa frota não para de crescer, dia após dia, mês após mês. A cidade, como nós sabemos, é um espaço físico, finito. Haverá um tempo em que ela não suportará mais esse volume de automóveis”, concluiu o geógrafo João Paulo.

Repense

Para obter medidas mais eficazes para melhorar a qualidade do ar é preciso, inicialmente, ir a campo, colher dados e fazer análises. No próximo episódio do Repense vamos conferir como tecnologias tem ajudado na redução da poluição nas grandes cidades.

Esta reportagem integra a série Repense Clima desenvolvida pelo Sistema Sagres de Comunicação com o apoio da Fundação Pró Cerrado. Ao longo de 12 episódios vamos aprofundar sobre temas relativos à sustentabilidade, produção e consumo, que estão conectados ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 13 da Organização das Nações Unidas (ONU), que é “Ação Contra a Mudança Global do Clima”.

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