O nascimento do Atlético foi como o nascimento do primeiro filho, que também é o primeiro neto da família. Era esperado com ansiedade pela população campineira, que via o território da cidade sendo transformado na Capital do Estado. Tudo era expectativa. “Havia uma euforia indescritível no ar”, costumava dizer José Marques de Albuquerque, que durante anos respondeu pelo Departamento Jurídico do Clube.

Todos queriam um time de futebol para representar a Cidade que estava virando bairro de Goiânia.

Na época os jogos de futebol se resumiam às partidas que os seminaristas redentoristas faziam entre eles. Joaquim da Veiga Jardim ouviu este clamor quando se mudou da antiga Capital, Goiás, para a nova, em busca de oportunidades econômicas. Conversou com dois outros homens ricos e influentes que vieram com ele: Édson Hermano e João Batista Gonçalves e o trio decidiu conquistar o povo de Campinas, fundando o tão sonhado time.

Foi assim que nasceu o Atlético Clube Goianiense, em 2 de abril de 1937.
Naturalmente, como primeiro filho, esperado com ansiedade, o Atlético nasceu muito amado. Toda a coletividade campineira era atleticana e o Atlético era a representatividade de resistência da cidade reduzida a bairro.

Os jogos eram contra times de outras cidades e o Atlético era paixão geral, amor de todos. As tradicionais famílias campineiras se enfileiraram ao crescimento do time: Cabral, Helou, Sampaio, Marques, Albuquerque, Ferreira, Oliveira Ney, Moraes, Jayme, Roriz, Reis, Batista, Melo e pode se dizer que todas as demais se tornaram atleticanas.

Padre Ângelo Licatte, falecido em 2018, era seminarista na época e sempre relatava que no Seminário São José estava a mais fanática torcida do novo time. Quando o primeiro grande rival Goiânia nasceu, o amor pelo time aumentou. Campinas tinha aproximadamente 10 vezes mais moradores do que o restante de Goiânia.

O Goiânia Esporte Clube nasceu por influência de Pedro Ludovico Teixeira e por isto quem trabalhava pelo engrandecimento do Goiânia, acabava ganhando um bom negócio com o poder público, ou um bom emprego na administração municipal, ou estadual. Assim o Goiânia ficou conhecido com o time “chapa branca” e o Atlético, o “clube do povo”.

A rivalidade entre as duas equipes era enorme e normalmente os jogos acabavam em briga. Como a torcida do Atlético era maior, “no tapa nós sempre batíamos” – falava com frequência José Martins de Sousa Zenha, menino torcedor da época que mais tarde se tornou um dos mais importantes dirigentes atleticanos.

Veio o primeiro campeonato oficial, em 1944 e o Atlético foi o Campeão. A torcida ia só crescendo com o crescimento da população da nova Capital. Na década de 1940, o Atlético ainda foi campeão nos anos de 47 e 49.

Ainda dono absoluto da maior torcida já com outros adversários na cidade, o Atlético ganha dois títulos na década de 1950: em 55 e 57. Nesta época aparece o cinema em Goiânia. O mais luxuoso e frequentado era o Cine Campinas. Além das comédias e bang-bangs, havia um outro tipo de filme bem popular: o das artes marciais. Os mocinhos destes filmes, que desferiam os melhores golpes eram chamados de Dragões. E daí veio o mascote atleticano, o Dragão Campineiro, que tocava fogo nos adversários.

A escolha do mascote aumentou ainda mais o prestígio com o público e a torcida continuou crescendo, ardendo de paixão pelo Dragão. Só quem arde de paixão pode incendiar o mundo.

O Atlético incendiava pelo menos o mundo ao seu redor, com torcedores ilustres, como um dos principais nomes das artes plásticas de todos os tempos no Estado, Frei Nazareno Confaloni, que arrastou com ele seus alunos do curso de belas artes da UFG, entre estes Antônio Potero e Noé Luiz. O cartorário Valdir Sampaio, figura muito querida de Campinas também era Atlético e com ele aderiram ao Clube seus admiradores.

O músico Mestre Egídio Linhares era tão fanático que fundou a “charanga do Atlético”, famosa por anos. Formada por músicos talentosos, saía pelas ruas do bairro numa carroceria de caminhão, tocando sucessos da época e chamando a torcida para o Estádio.

Mais popularidade, mais torcedores.

A conquista de 1947 trouxe para o Atlético aquele que foi o personagem mais importante na história da agremiação: Antônio Accioly. Homem de visão, assim que chegou à diretoria cuidou de levantar recursos, vendendo títulos de sócios fundadores e com o dinheiro regulamentou a área onde estava o campo e construiu o Estádio que leva o seu nome.

Aproximou o Atlético dos jovens políticos que despontavam como grandes lideranças na Capital, entre eles o vereador Íris Rezende Machado e do comando do futebol no Estado, elegendo um atleticano para a presidência da Federação Goiana de Futebol (FGF), Baltazar de Castro, que foi sucedido por outro atleticano, Gilberto Alves. A nova gestão, com visão futurista fortaleceu ainda mais o time, que sempre fora o maior do Estado, conquistou os principais torneios disputados na década de 1960: Torneio Início em 62, Taça Carlos Ribeiro do Nascimento em 63, campeão estadual em 64.

De 1965 a 1970 o Atlético não ganhou títulos e perdeu o de 1967 para o Crac de Catalão. Jogou a final precisando só do empate para ser campeão e foi derrotado em casa por 1×0.

Nesta época o Goiânia havia perdido terreno para o Vila Nova, que surgiu a partir do time do Araguaia e estava ligado à enorme população nordestina que veio morar no Setor Leste Universitário e na Vila que deu o nome ao Clube. Esta comunidade era liderada pelo baiano Boaventura Moreira Andrade, que se elegeu vereador na Capital e foi um dos idealistas da fundação do Vila Nova.

Liderados por Boaventura, os nordestinos passaram a torcer pelo Vila e com os outros simpatizantes, o Vila Nova passou a rivalizar com o Goiânia como dono da segunda maior torcida do Estado: a primeira continuava sendo a do Atlético. O Goiânia ainda se segurou com a conquista do Campeonato Goiano de 1968.

Mas o Vila Nova crescia em prestígio. O título de campeão goiano em 1969 colocou o Vila Nova como dono da segunda maior torcida e o principal rival do Atlético em campo. Os jogos entre Atlético e Vila Nova passaram ser chamados de clássicos dos milhões. As duas equipes decidiram o título de 1970: o Atlético foi campeão.

Aproximava-se um período de declive na vida do Atlético. Em 1971, com a base do time campeão estadual de 1970, o Atlético conquistou a primeira competição nacional para o Estado de Goiás, o Torneio da Integração Nacional, decidido contra a Ponte Preta, numa melhor de três partidas: o Atlético ganhou a primeira por 1×0, a Ponte Preta a segunda também por 1×0. A terceira partida terminou empatada em 0x0 e a decisão foi para a prorrogação com dois tempos de 15 minutos. Aos 14 minutos do primeiro tempo da prorrogação, Luizinho fez 1×0 para o Atlético e este foi o placar final, que assegurou o título para o time goiano.

Mas passado o Torneio da Integração Nacional veio a derrocada. Antônio Accioly morreu e não deixou sucessor. As gestões seguintes foram catastróficas. O Clube Social de Campinas, na Avenida 24 de outubro, propriedade do Atlético, foi vendido. O dinheiro não apareceu nos cofres do Clube. O governo do Golpe Militar de 64 ficou mais rígido e interessado na desconstrução de lideranças que significavam riscos. O então prefeito de Goiânia, Íris Rezende, que era uma destas lideranças, havia sido cassado.

O Atlético era visto como ligado a Íris Rezende. Ele era conselheiro do Clube, seu irmão Otoniel era diretor. Houve uma devassa na vida do Atlético. Todo dia algum fiscal aparecia no Estádio Antônio Accioly para checar alguma irregularidade, que nunca foi encontrada. Mas a pressão funcionou e os conselheiros influentes foram se afastando do Clube com medo de retaliação.

Com a ausência de Antônio Accioly o Atlético não tinha outro articulador para negociar uma saída e evitar a debandada dos conselheiros. A falta de dinheiro e de gestores competentes afugentou a torcida atleticana. Enquanto isto, crescia em prestígio o Goiás Esporte Clube, com a influência do empresário Hailé Pinheiro e do seu irmão, também empresário e não menos influente Edmo Pinheiro o Goiás estruturava patrimonialmente e se aproximava do poder. Um conselheiro influente no governo teve espaço aberto pelos irmãos Pinheiro no Goiás, Melchior Luiz Duarte. O trio se uniu no momento em que a CBF organizava o Campeonato Brasileiro. Estava estabelecido que os campeões dos estados menores de 1973, representariam o Estado no Brasileiro. O campeão foi o Vila Nova, mas no trabalho político bem elaborado, o Goiás conseguiu a indicação como representante goiano no Campeonato Nacional.

Com habilidade o Goiás conseguiu por empréstimo os principais jogadores do Atlético para a disputa. Os dois melhores deles nunca mais voltaram: Paguete e Raimundinho. A esta altura sem representatividade política, sem diretoria eficiente e tendo perdido a presidência da FGF, o Atlético era só um time a mais no Campeonato Goiano.

As dificuldades financeiras só cresciam e o Clube só diminuía. De 1971 a 1984 o Atlético não ganhou nenhuma competição e sua torcida foi reduzida aos velhos simpatizantes: a falta de títulos não renovou a torcida. O Atlético passou ser a terceira maior torcida do Estado, mas muito distante do Vila Nova e Goiás, que com a presença no Campeonato Brasileiro cresceu o número de simpatizantes, passando a rivalizar com o Vila e com ele fazendo o principal clássico do nosso futebol.

Os cronistas esportivos atleticanos também foram deixando a imprensa, que basicamente foi ocupada por vilanovenses e esmeraldinos. Sem dinheiro, sem influência, sem mídia, a torcida foi só diminuindo.

Quando o País foi redemocratizado as coisas mudaram. No final de 1984 entraram para a diretoria do Atlético nomes importantes do empresariado goiano: Odilon Soares, José Martins de Sousa Zenha, Carlos Eduardo Rezende, Álvaro Melo e o economista/professor universitário Valdivino José de Oliveira.

Não havia mais temor de retaliações. Zenha assume a presidência do Clube em 85 e conquista o Campeonato Goiano, Odilon assume a presidência em 1988 e também conquista o Campeonato Goiano. Tudo parecia caminhar bem. Valdivino Oliveira assume a presidência em 1990 e ganha o Campeonato Brasileiro da Série C.

Apesar da boa fase, o Clube tinha pouco espaço na mídia esportiva e a torcida não cresceu como se esperava. O Clube sobrevivia com a venda dos jogadores que revelava e as doações dos conselheiros – as rendas eram pequenas.

No final da década de 1990, os empresários (já idosos) se cansaram de por dinheiro no Atlético. Apareceu um grupo liderado pelo ex-piloto de automobilismo, Alencar Júnior, propondo a construção de um shopping na área do Estádio Antônio Accioly. Um consórcio de construtoras e investidores construiriam o empreendimento, o Atlético entrava com a área e o shopping seria das partes envolvidas. O então presidente Odilon Soares topou, desde que os jogadores do elenco fossem entregues a ele para pagar parte do dinheiro que ele havia colocado no Clube. Alencar Júnior topou.

Jogadores de bom valor no mercado como Romerito, Lindomar, Oscar, Babau e outros foram passados para Odilon Soares. O time ficou sem elenco. Alencar Júnior montou um elenco com jogadores amadores buscados principalmente nos estados de São Paulo e Minas Gerais apenas para não acabar com o time de uma vez.

Um ano depois o Atlético estava sem time e fora do Campeonato Goiano. Alencar e as construtoras na verdade queriam construir um shopping no local, mas para o Atlético seria doado apenas o direito de explorar comercialmente o estacionamento. Tudo mais seria das outras partes.

Dois velhos conselheiros entraram em cena para proteger o Atlético: José Mendonça Teles (escritor e ex-ponta esquerda do time) e Omar do Carmo. José Mendonça pediu junto ao Instituto do Patrimônio Histórico de Goiás o tombamento do velho Estádio como Patrimônio Público Estadual e conseguiu. Omar do Carmo era dos sócios fundadores o único vivo e isto lhe dava a prerrogativa de vetar o negócio feito sem sua assinatura. Entrou na justiça e o negócio foi desfeito. De 1999 a 2004 o Atlético esteve morto. O grupo liderado por Alencar Júnior teve tempo de destruir quase tudo no Estádio Antônio Accioly. O Centro de Treinamentos do Urias Magalhães foi abandonado.

Sem chance de se apropriar do patrimônio do Clube, o grupo abandonou o Atlético. Veio a hora da reconstrução. O empresário Wilson Carlos assume a presidência. Recupera o que havia sido destruído no Centro de Treinamentos e no Estádio Antônio Accioly. Nunca encontrou os postes, sistema de iluminação e nem o busto de Antonio Accioly que foram retirados do Estádio. Com o Centro de Treinamentos e Estádio refeitos, Wilson Carlos passa a presidência para Valdivino José de Oliveira e o time volta a disputar o Campeonato Goiano, na divisão de acesso, onde foi campeão em 2005.

Nesta retomada, Valdivino contrata o executivo de futebol Adson Batista para dirigir o Departamento de Futebol do Clube. Iniciava uma nova fase de glória no Dragão.

De 2005 a 2020 o Atlético construiu um dos mais modernos Centros de Treinamentos e Concentração do futebol brasileiro. Refez o Estádio Antônio Accioly no padrão FIFA, para mandar os jogos das competições nacionais e internacionais lá. Foi campeão da Divisão de Acesso em 2005. Foi campeão estadual em 2007, 2014, 2019 e 2020; saiu da Série C e chegou à Série A do Campeonato Brasileiro, com o primeiro acesso à Série A em 2009 e tendo sido campeão da Série B em 2016.

Chegou à semifinal da Copa do Brasil no mesmo ano e em 2011 disputou a primeira competição intercontinental da sua história, a Copa Sul-Americana.

A torcida não voltou ser a maior do Estado, mas o time atual bicampeão goiano, único representante goiano na Série A do brasileiro e com vaga para disputar a Copa Sul-Americana neste ano, é o melhor de Goiás.

Todo este trabalho feito a partir de 2005 que agigantou o Atlético outra vez, foi comandado pelo atual presidente Adson Batista com colaboradores importantes como Jovair Arantes, Sebastião Santana, Maurício Sampaio, Marco Antônio Caldas, Marcos Egídio e outros que se mostram pouco para a opinião pública.

Mas o comando é de Adson Batista que passou a dividir com Antônio Accioly o prestígio de principal dirigente do Clube em toda sua história. Adson tem planejamento ousado para a conquista de uma vaga para a Copa Libertadores da América em breve e a construção de um Centro de Formação de Jogadores, no padrão dos melhores do País, na área que o Atlético tem, no Setor Buriti Sereno, em Aparecida de Goiânia. Quanto a voltar a ter a maior torcida do Estado, Adson acha que é só uma questão de tempo, sem pressa, com planejamento e amor.

Como o amor é uma paixão que não desliga do passado e não abre mão do sucesso nos planos futuros, é aguardar para ver o Atlético voltar a ter uma torcida do tamanho da administração organizada e da excelência do futebol que o Clube campineiro ostenta.