Depois de uma primeira metade irregular, entre acessos e descensos, o Vila Nova conseguiu estabilidade na Série B no final da década. Foram quatro anos consecutivos na segunda divisão do Campeonato Brasileiro, período no qual flertou em duas oportunidades com o acesso para a Série A. Em 2019, contudo, as constantes mudanças na direção e no comando deixaram o time colorado na última posição.

Por isso, a equipe do estádio Onésio Brasileiro Alvarenga, que continuará sendo a sua casa ao longo desta temporada, disputará a Série C após seu quarto rebaixamento. Sem tempo para perder na terceira divisão, em meio ao trabalho de recuperação administrativa, financeira e estrutural do clube, o time comandado por Bolívar busca de forma imediata o retorno e o quinto acesso vilanovense para o segundo escalão do futebol nacional.

Calendário nacional do Vila Nova na temporada de 2020: datas e horários confirmados até a 9ª rodada (Foto: Sagres Online)
Contratações no início da temporada

Para a temporada de 2020, o Vila Nova teve uma verdadeira revolução. A começar pela direção do clube. Hugo Jorge Bravo, diretor de futebol nos acessos em 2013 e 2015, função que repetiu no segundo semestre de 2019, além de também ter coordenado as categorias de base, saiu da presidência do Conselho Deliberativo à presidência executiva colorada para o biênio 2020-21. Sua principal missão não poderia ser outra: a Série B.

Do elenco de 2019, somente o goleiro Cleriston e o meia-atacante Alan Mineiro permaneceram no elenco. Entre jogadores promovidos da base ou que retornaram de empréstimo, foram agregados os zagueiros Brunão, Luizão e Matheus Barbosa, que saiu ainda na pré-temporada, os volantes Lucas Jacaré e Éder, os meias Rui e João Pedro e os atacantes Anderson e Caíque.

Além deles, a direção buscou 24 novos jogadores. Chegaram os goleiros Fabrício e Wallace, os zagueiros Danrlei e Adalberto, os laterais Crystian, Ramón Coronel, Marquinho e Mário Henrique, os volantes Liel, Pedro Bambu, Francesco, Adriel e Pablo, os meias Celsinho e Emanuel Biancucchi, os pontas Kauê, Gilsinho, Lucas Silva, Rafael Barbosa, Talles e Mateus Criciúma, além dos centroavantes Dimba, Nando e Richard Salinas.

Desempenho antes da pandemia

No primeiro semestre do ano, o Vila Nova teve dificuldades na primeira fase do Campeonato Goiano. Em dez jogos, a equipe colorada venceu somente três vezes, com três empates e quatro derrotas. Se a defesa esteve bem, com apenas seis gols sofridos, o ataque produziu pouco: também seis gols marcados. Até a paralisação do torneio, o time somou 12 pontos, na 7ª posição Já na Copa do Brasil, depois de bater o Galvez-AC, caiu nos pênaltis para a Ponte Preta na segunda fase.

Como foi a quarentena

No último mês de competição antes da suspensão das atividades, o Vila Nova empatou com o Goiás, perdeu para o Jaraguá e venceu o Anápolis, seu compromisso final, em 14 de março. Três dias depois, com a paralisação do Goianão e as medidas restritivas de prevenção ao novo coronavírus, o clube foi forçado a fechar suas estruturas e dispensar os jogadores do trabalho, adiantando as férias do final do ano.

Depois de um período de trabalhos físicos em home office, os atletas retornaram ao clube somente no dia 17 de junho, três meses depois. Apesar da liberação do poder público municipal em 1º de junho, a direção vilanovense adotou cautela com o retorno das atividades na sua estrutura. Com a nova proibição do governo estadual no final do mês, o time de Bolívar voltou a ficar inativo por uma semana, retomando os treinos em Santo Antônio de Goiás antes de voltar à Goiânia.

Contratações na volta do futebol

Depois das dispensas de Adriel e Kauê, o Vila Nova preparou uma nova reformulação do elenco para a Série C. Com desempenhos pouco convincentes no primeiro semestre, Wallace, Crystian, Marquinho, Liel, Francesco, Lucas Jacaré, Celsinho, Mateus Criciúma, Rafael Barbosa, Nando e Dimba não retornaram para o OBA. Já Brunão acabou negociado com o Arouca, de Portugal. Lucas Silva ainda foi emprestado para o Água Santa, onde disputou as últimas duas rodadas do Campeonato Paulista, mas já voltou.

Além do goleiro Pedro Henrique, a defesa foi a área mais movimentada e recebeu os zagueiros Rafael Donato e Saimon, os laterais-esquerdos Willian Formiga e Igor e o lateral-direito John Lennon, que também atua no meio-campo, setor que agora conta com os volantes Derli e Dudu. Já o ataque ganhou os últimos reforços: depois de Rafhael Lucas, chegaram Henan e Rodrigo Alves.

Preparação para o Campeonato Brasileiro

Na intertemporada, a equipe comandada por Bolívar realizou três testes preparatórios para a Série C. Foram três jogos-treinos, todos fora de casa. O primeiro contra o Real Brasília, na capital federal, em que venceu por 3 a 0, no dia 18 de julho. No sábado seguinte (25), o placar foi repetido, mas de forma contrária: derrota para o Atlético Goianiense, no CT do Dragão. De volta à Brasília, o time empatou com o Brasiliense em 1 a 1 no dia 31.

Time para a Série C

Fabrício; John Lennon, Rafael Donato, Adalberto e Willian Formiga; Pedro Bambu, Dudu e Emanuel Biancucchi; Talles, Henan e Lucas Silva

Na preparação para o Campeonato Brasileiro, a formação de Bolívar começou a ser desenhada, porém muitos reforços chegaram somente depois dos testes. De qualquer forma, o desejo da comissão técnica de ter disputa com pelo menos dois jogadores em cada função foi atendido: são três goleiros, cinco zagueiros, cinco laterais, cinco volantes, três meias, seis pontas e quatro centroavantes.

No gol, Fabrício é considerado incontestável após o bom desempenho, tido como o melhor do time no início do ano. Nas laterais, John Lennon largou na frente na direita em detrimento de Coronel, assim como Willian Formiga na esquerda, contra Igor e Mário Henrique. Já na zaga central, os experientes Rafael Donato e Adalberto a princípio comandam a defesa colorada, com Saimon e Danrlei na sombra.

O meio-campo tem a maior concorrência: Dudu, Pedro Bambu, Derli e Éder trazem diferentes possibilidades para Bolívar, que aposta em Emanuel Biancucchi como fonte criativa, ainda na espera o retorno de Alan Mineiro. No ataque, Talles e Lucas Silva estão na frente de Gilsinho no momento, enquanto Henan é a grande aposta de gols do Vila Nova para o acesso. Por outro lado, Rafhael Lucas traz experiência de Série A.

Treinador do time

A temporada de 2020 do time da ‘Vila Famosa’ começou com o comando de Ariel Mamede, contratado ainda em dezembro do ano passado. O jovem treinador, de 31 anos, retornou para o OBA para sua primeira experiência no time principal depois de passagem na base, porém não conseguiu conduzir a reformulação do elenco e trazer os resultados esperados. Depois de oito jogos, o próprio pediu demissão em 22 de fevereiro.

Um dia depois, Bolívar foi contratado. Jogador vitorioso com o Internacional, o ex-zagueiro enfrentou o Vila Nova na última Série B pelo Brasil de Pelotas e comandou o time colorado em apenas quatro jogos até a suspensão. Depois de cinco meses entre paralisações e treinos  enfim teve o tempo necessário para implementar sua filosofia de trabalho com a missão de levar o ‘Tigrão’ de volta à segunda divisão.

Contudo, segundo o treinador, “o favoritismo deixamos para o torcedor e a imprensa. Sabemos que é uma competição muito difícil, com equipes no nosso próprio grupo de muita tradição. O Vila por si só, por ter tradição e ser uma equipe de massa, onde participa sempre quer ser protagonista, então precisamos demonstrar isso dentro de campo para poder mostrar sim que brigaremos por uma das vagas”.

Expectativa para a temporada

Na opinião dos comentaristas da Sagres, o Vila Nova tem condições de conquistar sua meta. Para Tim, “gostei da montagem do Vila Nova para o Campeonato Brasileiro da Série C. O Vila manteve jogadores que foram relativamente bem no início da temporada, no Campeonato Goiano e na Copa do Brasil, e contratou jogadores de qualidade. Hoje, o elenco do Vila é forte e tem grandes chances de conquistar o objetivo principal, que é subir. Acredito que o Vila estará entre os quatro melhores da Série C”.

Evandro Gomes, por sua vez, afirmou que “o Vila tem, no papel, um time razoavelmente bom para disputar a Série C. Tem jogadores experientes, como Adalberto, Fabrício, Henan e Alan Mineiro, que já disputaram a Série B em alto nível e estão prontos para representar a camisa colorada. Todavia, é necessário esperar um pouco: vamos ver a reação diante do Manaus para ter uma base melhor sobre o que será o Vila no Campeonato Brasileiro. Mas, pelo time montado, dá para chegar entre os oito e ir para a Série B”.

Histórico no Campeonato Brasileiro da Série C

Esta será a nona participação do Vila Nova na terceira divisão do Campeonato Brasileiro, competição pela qual conquistou seus dois títulos nacionais. O primeiro veio em 1996, quando foi protagonista com a melhor campanha do torneio, conquistado de forma invicta após 14 jogos, com 11 vitórias e três empates. Na final contra o Botafogo-SP, duas vitórias de um time guardado na memória do torcedor colorado, estrelado por figuras como Luciano Mineiro, Sabino, Tim e Roni, comandado por Roberval Davino.

Depois de dez anos seguidos na Série B, a equipe não perdeu tempo em 2007 após o descenso um ano antes. Treinado por Artur Neto e com um grande elenco, com Michel, Henrique, Heleno, Paulo Ramos, Alex Oliveira, Wando e Túlio, artilheiro com 27 gols, o Vila Nova teve a terceira melhor campanha da competição, com 17 vitórias, seis empates e nove derrotas em 32 jogos. No octogonal final, com uma rodada final quente, deixou seus conterrâneos Atlético Goianiense e Crac de fora.

Rebaixado em 2011, o time falhou no ano seguinte, mas retornou à Série B em 2013. Eliminado na semifinal, a formação de Heriberto da Cunha tinha Tony, Vitor, Romerito e a dupla Robston e Frontini, que repetiu a receita dois anos mais tarde depois de nova queda em 2014. Com o volante como capitão e o centroavante como artilheiro, o time Márcio Fernandes também contava com Edson, Gustavo Bastos, Vinícius Simon, Zotti e Moisés e conquistou o bicampeonato, com direito a goleada na final em um Serra Dourada lotado.