Durante a série de episódios do especial “Qual é o Ensino Médio que queremos?”, gravados para o Conexão Sagres, especialistas em educação e professores fizeram propostas para aquilo que acreditam que deve ser o futuro da última etapa da Educação Básica.

Nesse sentido, o futuro dos alunos, sobretudo os de escolas públicas, vem sendo amplamente discutido por diversos setores educacionais, como resultado dos debates relacionados ao Novo Ensino Médio, oficializado pela Lei 13.415.

Para aqueles que defendem o modelo, o Novo Ensino Médio é capaz de proporcionar competências que incrementam a capacidade de escolha dos alunos quanto ao futuro. Assim, para essa parcela, a disciplina intitulada como Projeto de Vida aparece como um dos principais pontos positivos.

Futuro

No caso do Projeto de Vida, ele aparece como um chamado “componente curricular”, ao lado de outras mudanças significativas, como os itinerários formativos. Na Lei 13.415, sancionada em 2017, é definido:

“Os currículos do ensino médio deverão considerar a formação integral do aluno, de maneira a adotar um trabalho voltado para a construção de seu projeto de vida e para sua formação nos aspectos físicos, cognitivos e socioemocionais.”

Entretanto, durante episódios da série especial para o Conexão Sagres, especialistas afirmaram a necessidade de outros aspectos para a discussão.

“O Ensino Médio que nós deveríamos estar sonhando e avançando no Brasil é um que, assim como a Constituição diz, prepara os estudantes para o seu pleno desenvolvimento, para a cidadania e para qualificação para o trabalho”, afirma o Diretor de Políticas Públicas do Todos Pela Educação, Gabriel Corrêa.

Segundo ele, um modelo ideal de Ensino Médio pressupõe que a escola como instituição seja capaz de ampliar possibilidades para as juventudes, o que envolve a possibilidade de escolha, tanto por alunos de escola privada, como para estudantes da rede pública.

Possibilidades

“O que está desenhado hoje permite que as escolas trabalhem isso de uma forma bem feita. Mas, isso não significa que isso está sendo feito em todas as escolas”, afirma Corrêa. De acordo com ele, é possível verificar diferenças nas aplicações ao se observar as realidades dos diferentes estados no país. A ausência de uma uniformidade entre as redes de ensino é um dos principais argumentos usados por aqueles que defendem a revogação do modelo que institui o Novo Ensino Médio.

A revogação não é o caminho defendido pelo Diretor de Políticas Públicas do Todos Pela Educação, no entanto, para ele o modelo abre espaço para mudanças urgentes.

“Criar uma disciplina de Projeto de Vida e não preparar profissionais da educação, não ter material, conteúdo, não ter nada, realmente vira uma aula vazia. Se bem feita, a ideia é uma baita oportunidade para o jovem abrir o seu leque de oportunidades”, ressalta.

Mudanças

“A gente sempre pautou que o Ensino Médio precisava sim de uma reforma, mas uma reforma que atendesse as nossas angústias e a diversidade dos estudantes brasileiros”, destaca o Diretor de Políticas Educacionais da União Brasileira dos Estudantes (UBES), Arthur Santos.

Durante participação em um dos episódios do Conexão Sagres, ele afirma que para a instituição que representa, é essencial que os estudantes estejam na linha de frente no processo de mudanças, como é o caso da Lei que propôs um novo modelo para o Ensino Médio.

“Precisamos ser formados como cidadãos críticos para entendermos a nossa realidade e os nossos espaços”, declara Santos. Segundo ele, é indispensável um modelo que abranja os diferentes perfis de estudantes brasileiros, de modo que suas escolhas sejam ampliadas.

“Obviamente, existem aqueles estudantes que querem sair do Ensino Médio e seguir no mercado de trabalho, mas existem aqueles que querem seguir para uma universidade e seus sonhos no ramo acadêmico”, ressalta.

Novos sentidos

“O grande desafio que temos hoje é perder a ideia de que o Ensino Médio é um preparatório para o vestibular. Até mesmo a proposta do Novo Ensino Médio muitas vezes é vista sob essa perspectiva”, defende o professor e pesquisador em Educação, Dário Aguirre.

Segundo ele, é preciso construir mudanças metodológicas que envolvam disciplinas, conteúdos e até mesmo o que tornou-se conhecido como eixo profissional, aquele que visa preparar estudantes para o mercado de trabalho a partir do ensino técnico.

“O que o Ensino Médio brasileiro vai contribuir para a estruturação nacional? Quando isso fica explicado, conseguimos pensar melhor o Ensino Médio e ter uma função para ele”, defende o pedagogo e especialista em Educação Inclusiva.

Para Aguirre, é necessário fazer novas perguntas para o avanço das discussões em torno da reavaliação do modelo de Ensino Médio.

“Qual é o papel do Ensino Médio dentro do Estado? Como ele irá atuar para o desenvolvimento? Quais processos metodológicos temos?”, são exemplos de questionamentos.

Professor Dário Aguirre comenta sobre processos de escolhas durante Ensino Médio

Desigualdades

“Quando a gente fala sobre o Ensino Médio parece que estamos falando de uma mesma coisa, mas não é. A realidade educacional pode ser muito diferente”, explica a professora e diretora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás (UFG), Lueli Nogueira.

Segundo ela, mais do que se pensar em formação para o mercado de trabalho, é papel da escola garantir a formação necessária para que estudantes tenham a bagagem essencial para avaliar suas opções. Além disso, é dever do do poder público assegurar que essas opções estejam dispostas no tempo certo, no fim da última etapa da Educação Básica.

“É preciso garantir o acesso à escola, sobretudo com qualidade. Para que isso depois se reverta em uma formação. Em todos os seus níveis, formar para o exercício da cidadania, a formação integral do ser humano”, defende Lueli Nogueira, que também representa o Fórum Estadual de Educação de Goiás (FEEGO).

Durante participação na série “Qual é o Ensino Médio que queremos?”, a pesquisadora defende que o espaço da universidade pública ainda é vista como um cenário distante, sobretudo para alunos inseridos em camadas mais vulneráveis.

“Ficamos muito tristes quando fazemos atividades em escolas, onde a Universidade se apresenta à comunidade, e escutamos alunos dizerem: ‘Eu posso ir pra UFG?’. É como se não enxergassem a possibilidade de estar aqui conosco, sendo que aqui é o lugar deles”, finaliza.

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