O futebol é um esporte que mexe com a paixão de milhões de brasileiros! A sensação na hora do gol do time do coração é vibrante, forte, marcante, inesquecível. O grito de gol traz consigo a alegria e soma-se à esperança da vitória. O futebol é envolvente, mobiliza corações não apenas nas quatro linhas de campo, mas também fora delas. É aí que entra o tema desta reportagem, o poder do futebol para reduzir e combater desastres naturais.

Futebol e Meio Ambiente formam uma bela dupla de ataque e pode resultar em diferentes gols, daqueles que é preciso colocar uma placa no estádio. No sentido figurado, o gol é a associação de fatos que podem transformar as nossas vidas.

Confira a reportagem na íntegra a seguir

No mar e na camisa

Alguns clubes têm vestido a camisa da sustentabilidade e dado bons exemplos a sociedade. Um deles é o Esporte Clube Bahia. Quem não se lembra quando houve um terrível desastre na costa marítima do nordeste brasileiro, com derramamento de óleo em três mil quilômetros de litoral?

O óleo chegou pela primeira vez no dia 30 de agosto de 2019 em praias nos municípios de Pitimbu e Conde, no litoral da Paraíba. As consequências do fato permanecem até hoje. De acordo com investigação da Polícia Federal (PF), um navio de bandeira grega teria sido responsável pelo vazamento. Segundo a PF, houve a prática dos crimes de poluição, descumprimento de obrigação ambiental e dano a unidades de conservação, previstos nos artigos 40, 54 e 68 da Lei 9.605/98.

Em outubro do mesmo ano, durante partida contra o Ceará, na 27ª rodada do Brasileirão, os jogadores do Bahia entraram em campo com o uniforme tricolor estampando manchas escuras, representando um protesto do clube contra o vazamento de óleo nas praias nordestinas.

Vazou… também na camisa do Esquadrão. Por medidas de redução do impacto ambiental e pela punição aos responsáveis, nossas camisas estarão manchadas de óleo no jogo de amanhã – como as praias do Nordeste”, escreveu o clube à época.

Em campo, o Ceará venceu o Bahia por 2×1, mas o Tricolor baiano saiu vencedor, com este belo gol de placa fora das 4 linhas. O Bahia leiloou quatro camisas com manchas de óleo usadas pelos jogadores como protesto na partida contra o Ceará, pelo Brasileirão, no dia 21 de outubro e arrecadou R$ 7.750.

Camisa com simulação da mancha de óleo. Foto: Reprodução- Esporte Clube Bahia.

A camisa mais cara foi arrematada por R$ 2.350, valor quase 11 vezes acima do cobrado por uma vendida nas lojas. As outras foram vendidas por R$ 1.950, R$ 1.775 e R$ 1.675. Toda a arrecadação foi doada à Organização Não Governamental (ONG) Guardiões do Litoral, que tem atuado na retirada do óleo das praias da Bahia.

“Essa é a importância do futebol como um todo, abraçar causas sociais e ambientais para tentar melhorar a sociedade como um todo”, relatou Nelson Barros Neto, de 37 anos, gerente de comunicação e um dos coordenadores do Núcleo de Ações Afirmativas da Bahia.

Na visão de Nelson, é a partir da força do futebol que as pessoas podem ser impactadas sobre os diversos assuntos. “O futebol no Brasil tem uma importância gigantesca de fazer com que as pessoas e torcedores em geral deem mais importância e besteiras do que políticas públicas, por exemplo. Mas a prefeitura e o governo estadual não têm tanto acesso a essas pessoas, e o futebol consegue chegar a este público”, ressaltou o gerente de comunicação.

Manifesto

O Bahia também escreveu um manifesto na ocasião.

“O problema é seu. O problema é nosso.

Quem derramou esse óleo? Quem será punido por tamanha irresponsabilidade? Será que esse assunto vai ficar esquecido?

O Bahia é você, somos nós, cada ser humano.

Publicação do Bahia nas redes sociais chamando para mobilização ambiental. (Imagem capturada do Instagram do Esporte Clube Bahia)

É a forma como representamos o amor, o apego, o chamego, o sagrado, a justiça. O Bahia é a união de um povo que vibra na mesma direção, que respira o mesmo ar e que depende da mesma natureza para existir, para sobreviver.

Jogaremos nesta segunda-feira (21), contra o Ceará, em Pituaçu, com a camisa do Esquadrão manchada de óleo.

Um convite à reflexão: o que faz um ser humano atacar e destruir espaços sagrados? O lucro a qualquer custo pode ser capaz de destruir a ética e as leis que regem e viabilizam a humanidade?

A barbárie deve ser tratada como tal, não como algo natural.

Pela primeira vez, colocamos uma mancha preta para simular uma mancha de óleo, e repercutiu bastante. Ficamos muito feliz, mas queremos tocar e ajudar a melhorar a sociedade”, disse Nelson.

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Alagamentos

O estado de Pernambuco foi fortemente afetado por chuvas este ano, principalmente nos meses de maio e junho. Várias regiões do estado ficaram alagadas, pessoas morreram e outras tantas ficaram desabrigadas.

Neste triste cenário, clubes de futebol, jogadores e torcedores se mobilizaram para ajudar as famílias em situação mais vulnerável. Na ocasião, torcedores do Sport iniciaram um movimento para recolhimento de doações com apoio também de seguidores do Náutico e Santa Cruz.

Ônibus do Náutico em distribuição de alimentos para vítimas de alagamentos. (Imagem capturada do Instagram Náutico Capibaribe)

Limpeza

Em áreas urbanas, alagamentos podem ser evitados, por exemplo, a partir da tomada de ações simples como recolher o lixo doméstico, o que evita que ele caia em bueiros, entupa a rede pluvial e provoque inúmeros transtornos. No Estádio Antônio Accioly, em Goiânia, o Atlético Goianiense marca um golaço em conjunto com a torcida.

O clube realiza a campanha “Jogue Limpo”. Antes de todas as partidas, pequenos sacos de lixo são distribuídos aos torcedores para que sejam responsáveis pelo material que utilizam durante os 90 minutos de jogo. Desta forma, os saquinhos individuais podem ser jogados nas diversas lixeiras espalhadas pelas arquibancadas e demais setores do estádio.

Sacolinhas distribuídas no Estádio Antônio Accioly, em Goiânia. (Foto: Divulgação Atlético Clube Goianiense)

“É uma campanha que faz com que o torcedor colabore com a limpeza em todos os campeonatos [realizados] no Accioly. Temos consciência que o torcedor, além de trazer a paixão dentro de campo, é um influenciador”, comentou Guilherme Barbosa Borges, gerente de Marketing do clube. “Educar o torcedor é uma missão social também”, argumentou.

Nesta reportagem vimos ações de clubes que batem um bolão vestindo a camisa da sustentabilidade. Mas os exemplos não ficam apenas por aí. O futebol não é apenas entretenimento ou diversão, mas um esporte que mobiliza campeões, dentro e fora de campo.

Repense

Esta reportagem integra a série Repense Clima desenvolvida pelo Sistema Sagres de Comunicação com o apoio da Fundação Pró Cerrado. Ao longo de 12 episódios vamos aprofundar sobre temas relativos à sustentabilidade, produção e consumo, que estão conectados ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 13 da Organização das Nações Unidas (ONU), que é “Ação Contra a Mudança Global do Clima”.

Esta reportagem teve a colaboração do repórter Paulo Massad.

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