Árvores ajudam a resfriar “ilhas de calor” nas grandes cidades

Parque Flamboyant reúne elementos essenciais para garantir conforto térmico (Foto: Johann Germano/Sagres Online)

Você já ouviu falar em ilhas de calor e de frescor? Elas estão presentes nos grandes centros, como Goiânia, cidade com áreas verdes, mas cercadas de asfalto e concreto. Mesmo em um mesmo espaço urbano, o ar e a temperatura da cidade apresentam diferentes variações. Em alguns pontos a sensação térmica é mais agradável, já em outros, nem tanto. Assista à reportagem a seguir

A professora de Climatologia do Instituto de Estudos Socioambientais da Universidade Federal de Goiás (UFG), Gislaine Cristina Luiz, avalia que nos pontos em que há maior arborização, há um alívio na temperatura nestas regiões.

”Em termos de atmosfera, a cidade comporta diferentes ambientes. Em Goiânia temos algumas ilhas de frescor, que são determinadas pelos parques, onde há maior arborização e menor incidência de materiais construídos. [As áreas de calor] são bem mais aquecidas do que o entorno daquela área. Goiânia tem uma mudança no comportamento da atmosfera e que viabilizou a formação de algumas ilhas de calor”, explica.

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O bosque do Parque Flamboyant, uma verdadeira esponja de poluição e que ajuda a purificar o ar (Foto: Johann Germano/Sagres Online)

Ilha de frescor

O Parque Flamboyant, com vegetação por todos os lados e com muita água, é um dos lugares da capital chamados de zona de frescor. Na região, o ar é mais limpo e a umidade relativa do ar é bem elevada.

Um verdadeiro oásis que proporciona o chamado conforto térmico, só que no meio de prédios e grandes construções. As árvores, assim como todas as plantas, durante a fotossíntese, absorvem o gás carbônico do ar e liberam o oxigênio. Elas também deixam o ar mais úmido e mais fresco.

Um exemplo de região de frescor é o Parque Flamboyant, um dos mais de 50 da capital. É por lá que a cozinheira Miriam Costa passa todos os dias. Há um contraste com localidades próximas daquele espaço, como vias movimentadas, entre elas a Avenida E, shoppings e grandes grandes edifícios.

”É muito bom. Você está aqui, respira melhor, tem a praça para sentar. É melhor do que ali na Avenida E, que é uma poluição. Você encosta no poste está tudo preto. Aqui, não. É bem cuidado”, afirma.

Ilhas de calor

O bairro de Campinas, o mais antigo de Goiânia, é também considerado o menos arborizado da capital, ou seja, a quantidade de material particulado nessa região é bem maior, pois não há absorção por parte da vegetação.

Com grande circulação de motos, carros e veículos pesados, além do concreto e asfalto predominantes, a região é uma das principais ilhas de calor do município.

”Nós tivemos ali uma total retirada da cobertura vegetal natural. A introdução de materiais construtivos como asfalto e concreto, a impermeabilização do solo, construções, edifícios, casas, são fatores que alteram o balanço de energia naquele local. Entra radiação solar, promove o aquecimento e esse aquecimento é totalmente diferenciado em função da composição desses materiais do que seria se a cobertura fosse vegetação natural”, esclarece a professora Gislaine.

Árvores são minoria no bairro de Campinas (Foto: Johann Germano/Sagres Online)

Limpeza do ar

A professora do curso de Engenharia Florestal da UFG, doutora Francine Neves Calil, destaca que há tipos de árvores que executam melhor o papel de limpeza do ar, do que outros. Ela explica que há características distintas que ajudam a reter o material potencialmente poluidor.

”Quanto mais copa, maior, mais estruturada, o potencial dessa planta é maior. Plantas que têm folhas mais espessas, com folhas mais pilosas, têm mais potencial de reter esse material particulado também. São algumas características que podemos buscar, mas podemos ter certeza que quando entendemos esse verde urbano como um todo, todas as plantas vão conseguir cumprir essas funções”, aponta.

Francine Neves Calil (Foto: Sagres TV)

O material particulado, citado pela doutora Francine, é gerado por incêndios, pela indústria, queima de combustível e construção civil, por exemplo. São minúsculos, podem ser cinco vezes mais finos que um fio de cabelo e vão parar nos pulmões das pessoas todos os dias.

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Plano de arborização

Atualmente, Goiânia conta com um Plano Diretor de Arborização Urbana, construído em 2007. Um novo documento, de 2017, vem sendo aprimorado. A bióloga da Agência Municipal de Meio Ambiente (AMMA) da capital, Wanessa de Castro relatou que o documento já está pronto e deverá ser analisado pela Câmara.

”O plano de arborização urbana de Goiânia foi elaborado pela equipe técnica. Após essa elaboração, ele será enviado à Casa Civil para que haja uma análise jurídica também. Depois, será encaminhado à Câmara para votação. Atualmente, ele está em análise na Casa Civil”, pontua.

A expectativa da AMMA é que o novo plano de arborização seja discutido e votado na Câmara ainda em 2022.

A bióloga da AMMA, Wanessa de Castro (Foto: Sagres TV)

De acordo com o plano, cerca de 47 mil árvores precisam ser monitoradas constantemente, pois estão com o ciclo de vida avançado e merecem cuidados especiais. O documento mostra que são 382 variedades diferentes na cidade, entre elas a Munguba, a Sibipiruna, o Ipê e o Flamboyant.

Munguba e sibipiruna estão entre árvores encontradas na capital goiana (Foto: Montagem/Sagres Online)

”Sempre que possível, em uma primeira escolha, nós trabalharmos com espécies nativas do bioma. Aqui em Goiânia, temos uma sazonalidade em relação à precipitação que é muito severa, praticamente seis meses do ano que não cai uma gota d’água. Uma vez que consigo trazer para a arborização espécies adaptadas, a chance de que esses indivíduos se desenvolvam durem, tenham 10, 20, 30, 50 anos, dependendo do ciclo de vida, é maior. Ou seja, vai contribuir para redução da poluição do ar, poluição sonora, aumento da infiltração da água e beleza cênica por muito mais tempo”, enumera Francine Calil.

Para a professora de Climatologia da UFG, Gislaine Cristina, um projeto de arborização na capital é fundamental para melhoria da qualidade do ar e aumento das zonas de frescor.

”Não é a questão de ir plantando de forma aleatória em função de números, associados ao total da população. Campinas é um exemplo disso, é um bolsão de uma ilha de calor. Que árvores têm ali? Tem mais ou menos próximo o jardim zoológico, mas o jardim zoológico é uma ilha de frescos para aquele local, não chega até a Avenida 24 de Outubro levando umidade e temperatura mais agradável para a população”, analisa.

A professora Gislaine Cristina Luiz (Foto: Sagres TV)

Quanto mais arborização e áreas verdes, mais conforto térmico, mais ilhas de frescor e mais qualidade do ar. A população, como a cozinheira Miriam Costa, os animais e o meio ambiente agradecem.

”Você tem que respirar bem, cuidar da sua saúde e do meio ambiente, do lugar onde a gente vive. É muito importante isso”, conclui Miriam.

Natural de Cachoeira Dourada, a cozinheira autônoma Miriam Costa passa todos os dias pelo Parque Flamboyant (Foto: Sagres TV)

Repense

Esta reportagem integra a série Repense Clima desenvolvida pelo Sistema Sagres de Comunicação com o apoio da Fundação Pró Cerrado. Ao longo de 12 episódios vamos aprofundar sobre temas relativos à sustentabilidade, produção e consumo, que estão conectados ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 13 da Organização das Nações Unidas (ONU), que é “Ação Contra a Mudança Global do Clima”.

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