Eunice Pirkodi Caetano Morais Tapuia representa o povo indígena Tapuia do Carretão na audiência pública “Povos originários: alternidade, violências e protagonismo”, realizada nesta quarta-feira (19) no auditório da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego). As aldeias da etnia localizam-se entre os municípios de Nova América e Rubiataba, no norte goiano.

Leia mais: Saiba onde estão localizados os povos indígenas em Goiás

Entre as demandas dos Tapuia, no entanto, Eunice reforça a necessidade de criação de uma secretaria dos povos originários e tradicionais de Goiás. Atualmente, o Estado conta com a Gerência de Povos Tradicionais, da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Seds).

“Em Goiás temos desde povos de recém-contato até povos que vêm sofrendo massacre, opressão, apagamento identitário e todo tipo de violência, inclusive o racismo. O povo indígena Tapuia do Carretão vem passando por esse processo desde 1688. Estarmos aqui hoje significa muito para a gente”, afirma.

Eunice Pirkodi Tapuia (Foto: Rubens Salomão/Sagres Online)

A audiência é uma proposição da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), que realiza há duas décadas a Semana dos Povos Indígenas no estado. A iniciativa de levar o tema para a Alego, entretanto, foi acatada pelo deputado estadual Mauro Rubem (PT).

Leia mais: Dia dos Povos Indígenas é celebrado pela primeira vez na História

“Assim como levou 300 anos para que um indígena do nosso estado chegasse em um curso de pós-graduação, também levou 300 anos para que a gente pudesse estar aqui hoje, levando as nossas demandas e ter instituições aqui do governo estadual para nos ouvir. Espero que seja bastante produtivo e que possamos retornar para nossas comunidades com respostas àquilo que a gente veio trazer”, afirma Eunice.

Educação

Os Tapuia são o maior povo indígena de Goiás. São 68 famílias e 222 indivíduos que vivem em aldeias no norte goiano. Além disso, outra grande parte da etnia reside nas cidades e em outras regiões do estado. A educação, segundo Eunice, é uma das prioridades dos povos originários.

Leia mais: Com escolas bilíngues, rede pública estadual atende 160 estudantes indígenas em Goiás

“A primeira escola indígena em Goiás foi criada em 2004. A gente não tem uma representação a nível estadual como os outros estados. A gente também não está fazendo parte de nenhuma das organizações nacionais. Isso tem dificultado muito a gente fazer com que nosso povo tenha visibilidade, com que a gente alcance políticas públicas específicas para os povos indígenas do estado de Goiás”, pontua Eunice. “A gente avançou, porém, no setor educacional, já conseguiu acessar e ter cotas nas universidades, a gente conseguiu a gerência do campo indígena e quilombola que discute educação escolar indígena. Mas a gente ainda precisa avançar muito também nos outros setores”, complementa.

A pró-reitora da PUC-GO, Priscila Valverde (Foto: Rubens Salomão/Sagres Online)

A pró-reitora de Graduação da PUC-GO, Priscila Valverde, afirma que a universidade, por meio da pesquisa e do debate com a sociedade, tem papel fundamental no reconhecimento, valorização e inclusão dos povos indígenas.

Leia mais: De “intruso” a inspirador, Xavante conta como transformou a educação indígena em Goiás: “Desafiei o meu mundo”

“Dentro dessa semana nós pretendemos discutir em vários âmbitos. Nada melhor do que trazer isso para a Assembleia, foi uma proposição nossa, acatada pelo deputado Mauro Rubem, e trazer essa discussão para a comunidade como um todo”, afima a pró-reitora. “Nossa ideia é debater com toda a comunidade e trazer a importância desse tema”, conclui.

Desenvolvimento

Para o deputado Mauro Rubem, não há desenvolvimento em Goiás sem a proteção e valorização dos povos indígenas. “É salvar a humanidade. Não existe cidade, não existe desenvolvimento sem florestas, e não existe florestas sem que os guardiões, que são os povos originários, as diversas etnias, estejam preservadas e protegidas”, afirma. “Espero que essa audiência pública consiga refletir sobre um desenvolvimento que nós queremos para o Estado de Goiás e que, mais do que nunca pela emergência climática mundial, passa pela preservação, o respeito e a dignidade dos povos originários, dos nossos indígenas e todas as suas etnias”, finaliza.

Foto: Rubens Salomão/Sagres Online

Leia mais: Busca por interculturalidade inspira primeiro professor indígena da UFG

A audiência pública conta ainda com representantes indígenas do povo Iny/Karajá, da Secretaria Estadual de Educação (Seduc), Dsei Araguaia/Sesai/MS, Funai e Seds.

Foto: Rubens Salomão/Sagres Online

Leia mais

Semana dos povos indígenas: exposição fotográfica dos povos originários

Seminário debate reconhecimento de comunidades tradicionais do Brasil

‘Não me chame de índio’: evento destaca protagonismo dos indígenas em produções artísticas