O percentual de floresta na região amazônica é de apenas 73,4%. Cientistas já alertam que o bioma já está dentro do limite científico conhecido em que a perda de biodiversidade consegue impedir a sua savanização. Este ano, por exemplo, a Amazônia passa por uma seca histórica, que pode causar a morte de plantas e, consequentemente, levar a floresta ao ponto de não retorno.

Carlos Nobre estuda as alterações climáticas na Amazônia. O climatologista aponta que a floresta está muito próxima de uma “savanização” e que as secas muito longas favorecem a alteração do bioma para um clima de savana tropical. 

“Se a gente continuar com o aquecimento global e com o desmatamento no máximo em duas ou três décadas, se cruza o ponto de retorno. Cruzou o ponto de retorno, ela (Amazônia) vai se tornando um ecossistema degradado a céu aberto, como se fosse um cerrado”, explicou.

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Fenômenos naturais e o aquecimento global

A presença do El Niño aquecendo as águas do Oceano Pacifico contribuiu com o atraso da estação chuvosa na Amazônia. O período geralmente começa em outubro, mas a região já vive quatro meses de seca intensa, agravada pela falta de chuvas. 

Mas além do fenômeno climático natural que prevalece desde junho, o aquecimento fora do normal da água do Atlântico Norte também contribuiu diretamente para o quadro climático atual da Amazônia.

Os dois fenômenos impulsionam ar quente sobre as Américas, e então, a região amazônica sofreu impactos com a escassez de precipitações, secas dos rios, ondas de calor e muitos animais morreram.   

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Moradores temem pelo futuro da Amazônia

A BBC News Brasil ouviu moradores da região sobre o estado climático que estão vivendo. A seca da Amazônia é a pior dos 49 anos de Oliveira Tikuna, indígena da Aldeia Bom Jesus do Igapó Grande, no Amazonas. “Nunca vi nada igual antes”, relata. 

A biodiversidade da floresta é o objeto de trabalho da bióloga especializada em ecologia vegetal Flávia Costa, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). A bióloga e os colegas de profissão que atuam na região já percebem que algumas árvores e plantas estão “exibindo sinais de estarem mortas”.

Oliveira Tikuna alerta que está na hora de defender a Amazônia. “Sabemos que temos muita culpa por isso”, afirma. O clamor do indígena é também de Miriam Marmontel, do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. 

O instituto contabilizou 276 botos mortos em dois lagos do Amazonas em dias que a temperatura da água chegou a 40,9 °C. “Sempre dizemos que esses animais são sentinelas porque eles sentem primeiro o que vai acontecer conosco. Está acontecendo com eles, vai acontecer conosco”, diz.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta matéria, o ODS 13 – Ação contra a mudança global do clima.

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