Em 2012, Jean Victor Merjan de Paula foi diagnosticado com esclerose múltipla, uma doença autoimune que atinge o cérebro, os nervos ópticos e a medula espinhal. Na época, Jean era um jovem bancário que vivia sob altos níveis de estresse no ambiente profissional.

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Jean Victor Merjan de Paula (Foto: Arquivo Pessoal)

Prestes a se formar em Gestão Comercial e a procura de uma nova carreira para seguir e se distanciar do que lhe fazia mal no ambiente bancário, Jean descobriu a musicoterapia.

“Quando eu conheci a musicoterapia eu era bancário e vinha de uma situação de estresse muito grande. Esse ambiente financeiro normalmente tem níveis de estresse muito elevados. Comecei a sentir coisas estranhas e fui ao médico para ver o que era e descobri a esclerose múltipla”, revela.

“Na época eu estava me formando em Gestão Comercial e estava procurando outros cursos para fazer e no meio das minhas pesquisas eu acabei esbarrando muito sem querer no curso de musicoterapia”.

“Eu fiquei chocado na época, porque eu sempre amei música, sempre toquei e pensei: ‘Meu Deus, como assim?”, conta.      

A musicoterapeuta e professora da faculdade de Musicoterapia da Universidade Federal de Goiás (UFG), Eliamar Fleury, relata que a musicoterapia é uma forma de tratamento que utiliza a música e a relação vincular entre o terapeuta e o paciente no tratamento de pessoas.

Eliamar Fleury (Foto: Arquivo Pessoal)

“Musicoterapia é a utilização da música e dos seus elementos, como: ritmo, harmonia e melodia em prol da saúde humana, para o tratamento das pessoas”, afirma.

Jean Victor toca violão desde os 16 anos e diz que a música começou a transformar a sua vida desde então. Entretanto, a musicoterapia foi um divisor de águas para o seu autoconhecimento. 

“A música já fazia parte da minha vida. Mas a musicoterapia foi um ponto muito diferente na minha vida, na minha história toda. Porque ela fez eu me enxergar de uma forma diferente”, salienta.

Eliamar Fleury destaca que a música, aliada a um acompanhamento multiprofissional, promove benefícios, auxilia no tratamento de doenças e traz um novo sentido para a vida dos pacientes.

Após conhecer o curso de musicoterapia, Jean Victor descobriu que a ABEM  (Associação Brasileira de Esclerose Múltipla) oferece o tratamento e resolveu cuidar da sua saúde aliando os remédios com a terapia. 

“A esclerose múltipla não tem cura, mas a musicoterapia me ajudou muito e trouxe muita melhora no meu quadro de saúde. No meu tratamento e no meu processo. A musicoterapia especificamente transformou a minha vida, a minha forma de ver as coisas, de entender as pessoas, de me relacionar e de entender os processos internos das pessoas”, frisa. 

Hoje, Jean Victor está com a esclerose controlada e tem uma vida normal. “Atualmente eu quase não tenho limitação por causa da esclerose. Têm os medicamentos que eu tenho que tomar, mas vivo basicamente como eu viveria se eu não tivesse esclerose”, celebra. 

Transição de carreira  

Além de auxiliar no tratamento da esclerose múltipla, a musicoterapia deu um novo norte para vida profissional de Jean Victor. A música que já era um hobby se tornou também uma profissão. 

Atualmente, Jean Victor é musicoterapeuta e encontrou um novo sentido para sua vida. “Quando conheci o curso de musicoterapia eu pensei: poxa, eu vou poder usar a música para ajudar outras pessoas. É isso que eu quero fazer da minha vida”, relembra.

Depois da experiência como bancário, o musicoterapeuta entende que a sua nova profissão “agrega as pessoas” e as ajuda a se conhecer melhor. 

“O mercado financeiro estimula a competição e não o crescimento. Podemos ter crescimento através da competição, mas o foco é diferente quando você estimula a competição. Na musicoterapia você estimula o crescimento, ela tenta trazer esse ponto para as pessoas, seja para os alunos, seja para os profissionais, seja para os pacientes. Nós estimulamos o crescimento e a transformação das pessoas”, destaca.          

O autoconhecimento através da experiência musical 

A música pode se tornar um mapa do autoconhecimento. Segundo a musicoterapeuta Priscila Mulin, as canções podem ter diferentes significados para as pessoas e ouvi-las deve ser encarado como uma experiência. 

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Priscila Mulin (Foto: Reprodução/ Sagres TV)

“Muitas coisas podem acontecer, a ideia de pensarmos a experiência é exatamente pensar na completude do ser humano. Como a música afeta os nossos pensamentos, a nossa vida e o nosso psicológico. A música tem essa abrangência muito grande na nossa vida. Altera nossos batimentos cardíacos, pode significar fortes emoções. A música tem a possibilidade de ser um meio de interação social”, explica. 

A musicoterapeuta classifica essa identificação como dimensão musical da existência. Trata-se de um processo que começa antes mesmo de nascermos. Porque a nossa audição começa a ser formada a partir da 21ª à 24ª semana de gestação.

“Nós bebezinhos já começamos essa aventura no mundo da música. Nessa aventura sonora, de ouvir os sons que estão no ambiente e as músicas, a gente vai criando uma marca na nossa vida”, salienta.

Priscila Mulin afirma que para aprofundar essa música no nosso cotidiano. Para isso, a musicoterapeuta diz que o ideal é reservar alguns momentos para fazer uma escuta atenta, tornando a música mais presente no dia a dia. 

“A pessoa que traz a música, a arte em geral, para o seu cotidiano e está com essa vivência mais aflorada, costuma ser mais feliz. Ela se conhece melhor, no sentido que ela vai pensando a sua existência e que ela pode realmente estar mais preparada para lidar com as situações do dia a dia”, finaliza.   

#Forma do Bem Sagres

Esta é a sexta reportagem da nova série inspirada no filósofo grego Platão. Ele descreve “A Forma do Bem”, como uma “Forma” (Ideia) análoga ao Sol que seria uma manifestação física que, assim como o Sol torna os objetos visíveis gerando vida sobre a Terra. O “Bem”, nesse conceito excede a vida, permite transcender para o além. Essa é a forma que, segundo Platão, permite ao filósofo, em treinamento, avançar para um rei-filósofo.

A Forma do Bem Sagres é um espaço de diálogo com a sociedade, alcançando as pessoas com conhecimento, reflexões e indagações. A cada semana, nos próximos três meses, apresentaremos novos conteúdos que vão te ajudar a ir além e a construir a sua navegação pelas rotas da transcendência.

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