Durante 11° webinário sobre o Ensino Médio, organizado pelo Ministério da Educação (MEC), especialistas ressaltaram necessidade de combater desigualdades no campo da educação e importância de programas para apoio e ampliação de oportunidades para estudantes no país.
Dessa forma, o evento com especialistas integra o conjunto de ações e debates da Consulta Pública conduzida pelo Ministério da Educação (MEC) para reestruturação da Política Nacional de Ensino Médio.
Na conversa, estiveram presentes a diretora educacional da Rede Nacional de Aprendizagem, Promoção Social e Integração (Renapsi), Rayane Monteiro; a chefe de Educação da Unicef Brasil, Mônica Dias Pinto; e representante dos Fóruns de Educação de Jovens e Adultos do Brasil, Rita de Cássia.
Novo Ensino Médio
O Novo Ensino Médio é resultado da Lei n° 13.415, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Dessa forma, o modelo pressupõe mudanças na grade curricular e aumento da carga horária para a última etapa da educação básica.
Após intensos debates sobre a efetividade do modelo, em março, o Ministério da Educação (MEC) anunciou período de consulta pública, com o foco na escuta de especialistas, além de estudantes e professores. Inicialmente, as programações previstas pela consulta pública deveriam terminar no dia 6 de junho.
No entanto, após pedidos de entidades e grupos representativos ligados à Educação, o prazo ampliou-se em 30 dias. Com isso, o MEC publicou uma nova agenda de webinários e pesquisas nacionais.
Educação Profissional
Os itinerários formativos fazem parte do conjunto de mudanças mais significativas trazidas pelo novo modelo. Nos moldes atuais, eles podem corresponder até 40% da carga horária total dos alunos durante os três anos da etapa.
Nesse sentido, um dos pontos de debate entre especialistas é a presença do itinerário de formação técnica e profissional.
Assim, grande parte dos especialistas defendem que o modo como o ensino técnico está sendo ofertado pode prejudicar a aprendizagem e condições para geração de oportunidades, sobretudo para estudantes de camadas mais vulneráveis.
“A baixa escolarização, a falta de qualificação profisisonal e a falta de domínio de tecnologias” foram exemplos citados pela diretora educacional da Renapsi, Rayane Monteiro. Segundo ela, esses elementos aparecem como obstáculos relevantes no cotidiano desses jovens.
“Temos um mundo em constante transformação. As desigualdades sociais são mais acirradas e evidenciadas. É urgente buscar alternativas pra que a gente possa adaptar esse futuro e apoiar sistemicamente as populações menos favorecidas”, complementou.
Renda
A representante da Renapsi destacou ainda os prejuízos gerados pelo trabalho informal, alternativa adotada por muitos dos estudantes no país. Como consequência, um grande contingente de jovens são expostos à ausência de direitos, proteção e aos baixos salários.
“É preciso criar um modelo profissionalizante em que o adolescente saia da escola pra fazer algo especifico”, destacou. Segundo ela, um caminho de união de forças é a melhor abordagem para pensar em alternativas efetivas.
“De forma isolada, nenhuma instituição sozinha pode dar conta da complexidade desse cenário. Precisamos unir forças”, destacou. A união de forças pode multiplicar oportundidades para adolescentes no país”, complementou Rayane.
Segundo a diretora, a oferta de aprendizagem profissional no país precisa ser ampliada. Dessa forma, classificou a experiência como um instrumento de fomento à educação, tecnologia e oportunidades para geração de renda.
“É função da educação construir pontes e criar espaços emancipatórios, onde nossos adolescentes e jovens sejam fortalecidos e valorizados”, complementou.
Escuta
A necessidade de ouvir opiniões e experiências dos próprios estudantes aparece nos discursos de diversos especialistas em educação. Desse modo, durante o webinário, a diretora de educação da Unicef Brasil, Mônica Dias Pinto, destacou informações a partir da comunicação com os próprios estudantes.
“Esses jovens traziam uma dificuldade grande na questão do aprendizado”, destacou Mônica.
Ademais, a diretora citou resultados de um estudo quantitativo conduzido com 1100 jovens de até 19 anos sendo que, entre eles, 20% não estava estudando.
De acordo com a especialista, a necessidade de trabalhar e de apoiar suas famílias estavam entre os fatores compartilhados.
“É preciso um apoio aos estudos, apoio pscicossocial e também uma escuta maior da escola com as suas famílias. Eles também comentavam sobre a importância de terem espaços de diálogos entre si”, afirmou.
Ademais, a representante da Unicef trouxe dados de estudo com informações provenientes da escuta feita em regiões áridas e na Amazônia.
“As sugestões desses jovens, além de tratarem sobre necessidade de infraestrutura na escola, falam sobre como as escolas precisam ajudar a desenvolver sua autoestima e a terem cuidados com seu bem-estar. Além disso, falavam sobre aprendizado, habilidades para vida, trabalho e para um desenvolvimento sustentável”, relatou.
Propostas
O debate elencou como alternativas a ampliação de parcerias com empresas e organizações aptas a oferecerem apoio à formação profissional dos jovens, além do acompanhamento de estímulo à aprendizagem.
“A educação profissional é um dos caminhos para uma formação mais abrangente. A articulação entre aprendizagem profissional e o Novo Ensino Médio contribui para reduzir o hiatu entre a educação e o mundo de trabalho”, complementou a representante da Renapsi, Rayane Monteiro.
Além disso, as especialistas reforçaram a importância de que o Ministério da Educação (MEC) considere as limitações enfrentadas por boa parte dos estudantes no país. O que, na prática, prejudica oportunidades de escolha e acesso às melhores oportunidades.
*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 04 – Educação de Qualidade.
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