A última pesquisa sobre a alfabetização em Goiás mostrou que 45% das crianças não estavam alfabetizadas na idade certa no ano passado. No entanto, no Primeiro Encontro Formativo do AlfaMais em 2024, a superintendente da Educação Infantil e do Ensino Fundamental, Giselle Faria, reforçou que a meta do estado é alfabetizar todas as crianças até o segundo ano do ensino fundamental.

“A gente já começa a trazer as pessoas para dentro do programa para elas se tornarem co-responsáveis para que a gente atinja a nossa meta, porque a nossa meta é audaciosa, é alfabetizar todas as crianças até o final do segundo ano do ensino fundamental. E o que é alfabetizar? é ler, escrever, compreender, interpretar, então precisa de muita gente para dar conta disso, nesse momento é todo mundo junto”, disse.

O Programa AlfaMais Goiás, criado em 2020, é a política educacional goiana voltada para a alfabetização na idade certa. Neste ano, então, o projeto começa o ano com o ciclo formativo para a gestão. O Módulo I de formação ocorre de 6 a 9 de fevereiro, em Goiânia, com o tema geral “Planejamento e Currículo” e foco específico no “Planejamento docente e de gestão no processo de alfabetização”.

“Até então não tínhamos esse formador no programa e é justamente por isso que nós vamos dar um olhar especial para a gestão, mas também articulando essa gestão com o processo da alfabetização, com a educação infantil, com a transição entre as etapas, porque existe uma transição entre a educação infantil e a alfabetização”, explicou a superintendente.

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Planejamento de gestão

Giselle Faria contou que o estado espera o resultado da avaliação externa da alfabetização goiana que será divulgada até o final de fevereiro. Mas, acompanhando o ano letivo que já teve início, a Secretaria de Estado da Educação de Goiás (Seduc) iniciou também a formação continuada dos professores. Desta forma, então, o primeiro tema é o planejamento de gestão.

Imagem (Seduc/GO)

“Esse tema planejamento de gestão é um planejamento que olha para todos os lados do processo de alfabetização, porque é claro que o processo de alfabetização acontece dentro da sala de aula. É uma relação entre professor e aluno, entre aluno e aluno. Mas o envolvimento da gestão, principalmente da gestão escolar, diretor, coordenador, supervisores, é muito importante para que esse professor tenha condições de fazer um bom planejamento com o discente na sala de aula. A escola é um organismo que trabalha articulado, um organismo vivo, não é só o professor e a sala de aula.”, argumentou Giselle Faria.

A formação dos professores é o primeiro passo para atingir os estudantes que ainda não estão alfabetizados. Faria afirmou que enquanto houver taxa de alunos não alfabetizados, o estado vai investir em formação. 

“Enquanto tiver 35%, 25%, 10% ou 15% nós vamos investir em formação. O programa AlfaMais investe em formação, investe em material didático, investe em incentivos e prêmios. Então esse programa é muito grande e tem várias frentes, e a formação é uma delas e é uma que potencializa muito o programa “, disse.

Formação continuada

A formação que está ocorrendo em Goiânia vai chegar a todos os professores, diretores e coordenadores do estado de Goiás. Os demais dias terão oficinas pedagógicas temáticas sobre educação infantil, alfabetização, gestão e articulação. Mas no primeiro dia, nesta terça-feira (6), ocorreu uma palestra com Mônica Samia, doutora em educação e que atua especialmente em programas de formação continuada na educação básica.

A palestra “Diálogos sobre a formação de formadores” destacou a importância da formação continuada dos professores. “A formação, especialmente a formação contínua, que é aquela formação que se faz ao longo do ofício do professor, é aquela formação que o ajuda a enfrentar com um pouco mais de leveza e segurança esses desafios, mas também essas grandes possibilidades do cotidiano das escolas”, contou Mônica.

Professores (Foto: Agência Brasil)
Professores (Foto: Agência Brasil)

Para a palestrante, o trabalho docente é o centro da educação do país. Segundo ela, o Brasil está valorizando a continuidade da formação dos seus professores, mas ela destacou a complexidade e os desafios que os docentes estão enfrentando no cotidiano, como as questões climáticas e a sustentabilidade. 

“Eu poderia dizer que pensar numa escola sustentável, não só do ponto de vista ambiental, mas sobretudo do ponto de vista das relações, da diversidade cultural, da possibilidade das crianças e dos jovens realmente se apropriarem desse conhecimento de mundo, saber interpretar e ingerir esse conhecimento e gerir a sua forma de estar no mundo e de ser no mundo, são ambições que a escola precisa ter muito próximas”, afirmou.

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O processo da alfabetização

O Brasil tem a meta de alfabetizar todas as crianças na idade certa, ou seja, que elas saibam ler e escrever até o 2º ano do Ensino Fundamental. A meta goiana parte do princípio que o estado quer entregar 100% para compor a meta nacional. Mas, para Mônica Samia, o processo da alfabetização ultrapassa os limites da leitura, da escrita e de uma disciplina específica.

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“Quando a gente entende que a alfabetização é uma forma de poder ler o mundo, a gente tá falando de uma habilidade específica, mas muito geral. Eu costumo dizer sempre aos professores que todos são professores de Português, por exemplo”, contou.

O Ensino Fundamental II é composto por disciplinas como Geografia, História, Ciências, Matemática, Educação Física, Artes e Língua Inglesa. Mônica ressalta que esta etapa do ensino depende da alfabetização para algo maior do que saber ler e interpretar. 

“Quando a gente fala do ensino fundamental II estamos num processo de discutir um momento histórico, relevo, clima, e tudo isso envolve um processo amplo de entendimento de alfabetização. Então a gente precisa dar sabor para isso, para que as crianças realmente se sintam mobilizadas a querer aprender sobre isso e isso perpassa antes que a gente também sinta esse sabor. Então formar nessa perspectiva é recuperar o sabor na nossa profissão”, finalizou.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta matéria, o ODS 04 – Educação de Qualidade.

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