Renascido das cinzas em 2005 e em constante crescimento há 15 anos, o Atlético Goianiense terá mais um importante passo para dar nesta temporada. De volta à elite nacional pela terceira oportunidade na última década, o clube rubro-negro tem como missão conseguir sua consolidação entre os 20 principais clubes do futebol brasileiro com a permanência na Série A.

Se em um primeiro momento não poderá contar com a sua casa à disposição no Campeonato Brasileiro, muito por conta das obras afetadas pelas paralisações em decorrência da pandemia, o Atlético conta com o trabalho conduzido pela direção de Adson Batista e a base do time que conquistou o acesso mantida. Para os campineiros, a desconfiança dos outros será combustível para a equipe surpreender.

Calendário nacional do Atlético Goianiense na temporada de 2020: datas e horários confirmados até a 10ª rodada (Foto: Sagres Online)
Contratações no início da temporada

Para esta temporada, o Atlético não pode contar com seus dois artilheiros em 2019, os atacantes Mike e Pedro Raúl, que reforçaram, respectivamente, Goiás e Botafogo-RJ, adversários na Série A. Zé Roberto, a solução de gols, ficou menos de um mês em Goiânia, porém rendeu um bom valor pela rescisão de contrato. Desde 2016 no clube, o lateral-direito Jonathan retornou para o Água Santa, onde disputou o Campeonato Paulista, e representará o Coritiba neste Brasileirão.

Já pensando na Série A, a direção atleticana foi atrás de nomes com experiência na primeira divisão. Além do goleiro Jean, chegaram o zagueiro Éder, os volantes Edson e Marlon Freitas, o meia Matheus Vargas e os atacantes Gustavo Ferrareis e Hyuri. Também foram contratados os jovens Dudu, lateral-direito, Caio Vinícius, volante, João Pedro, meia, e Vitor Leque, atacante, todos ligados a clubes da elite.

Se o meia-atacante boliviano Henry Vaca, destaque no Pré-Olímpico disputado na Colômbia em janeiro, foi uma novidade, o Atlético também buscou outros velhos conhecidos. Trio de ataque rubro-negro na Série B de 2018, Júlio César, Renato Kayzer e Júnior Brandão voltaram a se encontrar nesta temporada. Por outro lado, os garotos Luan, lateral-direito, Michel, zagueiro, e Eduardo, volante, também foram integrados ao elenco profissional.

Desempenho antes da pandemia

No primeiro semestre, o Atlético sofreu somente uma derrota em 13 jogos, contra o Jaraguá, quando entrou com um time reserva. No Campeonato Goiano, inclusive, a equipe foi soberana e, até a paralisação do torneio, após 10 rodadas da primeira fase, conquistou 23 pontos, líder com mais sete vitórias e dois empates. Foram 23 gols marcados e somente três sofridos. Na Copa do Brasil, superou União-MT e Santa Cruz antes de bater o São José-RS por 2 a 0 no primeiro jogo da terceira fase.

Como foi a quarentena

Antes da suspensão das competições, o time atleticano terminou o mês de março invicto, com três vitórias e um empate em quatro jogos. Na sua última partida, no dia 14 de março, vitória de 2 a 1 sobre o Grêmio Anápolis. Com o Goianão paralisado três dias depois, os atletas rubro-negros ainda realizaram treinamentos até o dia 19, mas foi o primeiro clube goianiense a antecipar as férias dos seus jogadores.

Ainda durante o período de treinos físicos em home office, o elenco do Atlético foi chamado de volta para Goiânia ainda em maio, antes da liberação de atividades nos centros de treinamento. Embora sem autorização do poder público, a equipe realizou treinos coletivos no final do mês, o que depois foi admitido pela direção como precipitado. Finalmente liberado, no dia 1º de junho foi o primeiro a retomar os trabalhos em Goiânia. Com nova proibição na capital, treinou em Trindade antes de voltar para a sua estrutura.

Contratações na volta do futebol

Se perdeu Zé Roberto e João Pedro ainda no primeiro semestre, Wendell, Caio Vinícius e Cristhyan não convenceram para seguir para o Campeonato Brasileiro e foram dispensados. Enquanto o jovem Eduardo foi negociado com o Portimonense, de Portugal, Moraes, também sem espaço, acabou emprestado ao Mirassol para jogar o Campeonato Paulista e a Série D.

Por outro lado, chegaram o zagueiro João Victor, destaque da Inter de Limeira no início do ano e emprestado pelo Corinthians, os volantes Willian Maranhão, sem clube após boa temporada no América Mineiro em 2019, e Matheus Frizzo, jovem promessa do Grêmio, e os meias Everton Felipe, emprestado pelo São Paulo, e Chico, ex-Ceará. Reforços contratados com o objetivo de trazer concorrência e completar o grupo rubro-negro.

Preparação para o Campeonato Brasileiro

A equipe de Goiânia que por mais tempo treinou durante o período sem jogos, o Atlético teve seus planos frustrados de enfrentar Flamengo e Vasco da Gama antes da estreia na Série A. De qualquer forma, realizou quatro jogos-treinos preparatórios, com direito a três goleadas. Depois dos 6 a 0 no Goiânia, em 18 de julho, venceu o Vila Nova por 3 a 0, no dia 25. Em sequência ao empate com o Cuiabá em 1 a 1 (29), bateu o Capital-DF por 7 a 0, em 1º de agosto.

Time para a Série A

Jean; Dudu, Éder, Gilvan e Nicolas; Edson, Marlon Freitas e Jorginho; Matheuzinho, Renato Kayzer e Ferrareis

Do time considerado ideal, embora bastante afetado pela covid-19 neste momento, as únicas alterações promovidas da equipe titular no primeiro semestre foram na defesa. Por sua técnica com os pés, Jean partiu na frente de Kozlinski na preparação para o Brasileirão, enquanto Dudu mostrou evolução nos treinamentos e ganhou a confiança da comissão técnica, que preteriu Reginaldo, hoje com futuro incerto no clube. Já Éder convenceu mais do que Oliveira, parceiro de zaga do capitão Gilvan na Série B.

Enquanto Jorginho se recupera fisicamente, a formação pode ter diferentes soluções para o setor. O versátil Everton Felipe, que também luta por espaço nas pontas, foi testado na função, enquanto Willian Maranhão e Matheus Frizzo trazem outros cenários. A diretoria ainda busca reforçar a lateral esquerda, onde tem apenas Nicolas, um atacante de velocidade para ser alternativa a Matheuzinho e Ferrareis, que geram menos profundidade, e um centroavante com características distintas de Renato Kayzer e Júnior Brandão.

Treinador do time

Contratado por sua experiência na elite do futebol brasileiro, Vagner Mancini chegou ao CT do Dragão em julho. Com um estilo de jogo identificado com a preferência da direção, o treinador ocupa um cargo que na maior parte do primeiro semestre não teve um titular. Contratado no final de janeiro, Cristóvão Borges durou somente um mês e sete jogos, enquanto a comissão técnica permanente, liderada pelo auxiliar técnico Eduardo Souza e o coordenador técnico Rafael Cotta comandou os demais jogos da temporada.

Ambicioso, Mancini destacou que o Brasileirão de 2020 “será um campeonato mais nivelado e por isso acredito muito em uma ótima campanha. É claro que depende de ‘n’ fatores, mas é importante que você acredite nisso e tenha segurança nos treinamentos para que o seu atleta possa chegar no jogo com a confiança para realizar o que foi passado. Será um campeonato diferente e temos que aproveitar o momento”.

Por outro lado, “o fato de jogar sem público no estádio representa para algumas equipes um peso diferente. É duro quando você tem que enfrentar uma equipe fora de casa e o estádio cheio. Não é só a pressão do jogo, mas também a pressão do contexto, o que muita gente não consegue enxergar. Quando jogamos fora de casa, sentimos pressão, desde o momento que chega no hotel, e isso, de certa forma, mudará”.

Presidente do clube

Parte fundamental da reestruturação do Atlético, Adson Batista está na direção do futebol rubro-negro há 15 anos. Aclamado presidente executivo em dezembro de 2018 para o triênio 2019-2021, segue atuando como diretor de futebol e é considerado um dos pontos do time. Segundo o dirigente, “o Atlético sempre está brigando para subir e conseguiu, em 10 anos, estar em cinco na Série A. Pela questão de orçamento e não ter margem nenhuma para erro, temos conseguido fazer o Atlético crescer e buscar espaço no futebol brasileiro”.

“Esperamos, com a força de muito trabalho e superação, conseguir a permanência, esse é o primeiro objetivo do Atlético. Hoje tem uma preocupação muito grande em relação à pandemia, que tem nos afetado, e esperamos que tenhamos um time competitivo. É evidente que imaginamos sempre coisas melhores, mas é muito imprevisível. Vi nos maiores veículos de comunicação os prováveis campeões e rebaixados, e sempre figuramos nos rebaixados. Isso tem que nos motivar para absorver de forma positiva e mostrar a força do Atlético e do nosso trabalho”, ressaltou Adson Batista.

Expectativa para a temporada

Na visão de Cleber Ferreira, comentarista da Sagres, “o Atlético entra no Campeonato Brasileiro com um primeiro objetivo, o maior deles: permanecer na Série A para 2021. Dentro dessa nova realidade e o ‘novo normal’, qualquer previsão que façamos é abstrata, porque dependerá da sorte também. Muita gente será atingida pelo vírus durante a competição e perderá jogadores em momentos importantes, então teremos que analisar a possibilidade de sorte e azar, e essa análise se torna abstrata. De qualquer forma, conseguindo a pontuação que lhe assegura, qualquer coisa que vier depois disso será lucro”.

Já para Tim, “a expectativa é muito boa em relação à equipe do Atlético, um time que modificou pouco, manteve a base do ano passado e se reforçou com boas contratações em um time que se entrosou muito rápido ainda no início do ano, no Campeonato Goiano. Agora o grande desafio: fazer um Campeonato Brasileiro seguro e regular para conquistar o objetivo principal do clube, que é a permanência na Série A. O Atlético está voltando agora depois de alguns anos na Série B, mas é um time que passa uma tranquilidade”.

O comentarista explicou que “porque mostrou bom desempenho. É um time que está bem consolidado e tem boas peças de reposição – o Adson Batista trabalhou muito bem em recompor a equipe. Para mim, o Atlético não terá susto. É um campeonato muito difícil, mas a equipe está preparada para fazer um Brasileiro seguro devido a tudo que mostrou na temporada. É um ano atípico, mas não oscilou em momento algum e isso passa uma tranquilidade. Tenho certeza que consolidará sua permanência na Série A, porque é um time que se preparou para isso e é muito organizado”.

Por sua vez, Charlie Pereira afirmou que “espero uma campanha de permanência do Atlético. Cobrar uma vaga na Copa Sul-Americana, na Libertadores ou briga lá em cima não se tem justificativa nesse momento. O Atlético, se não for o menor, tem um dos menores orçamentos da Série A. É um clube que tem que buscar como objetivo a permanência em um primeiro momento. O que vier a mais é lucro. Uma vaga na Sul-Americana ou uma briga na primeira parte da tabela, se tudo isso acontecer, será uma surpresa”.

“O Atlético tem que permanecer anos na Série A para conseguir uma estrutura financeira: o Adson fala muito disso. Quando ficou três anos, por mais que a expectativa era de ter ficado mais, o Atlético conseguiu financeiramente se organizar. Foi importante aquele período, e será agora se ficar muito tempo na Série A. O Atlético tem que focar nisso e os seus projetos têm que ser cada vez mais nacionais”, completou Charlie.

Histórico no Campeonato Brasileiro da Série A

Primeiro goiano a conquistar um título nacional, no Torneio de Integração Nacional de 1971, quando contou com jogadores como Pedro Bala, Zé Geraldo, Claudinho, Dadi, Paghetti e Raimundinho, o Atlético entra para a sua 11ª participação no Campeonato Brasileiro. Suas primeiras experiências aconteceram durante a Taça Brasil, em 1965 e 68, quanto chegou até os jogos finais da primeira fase, torneios reconhecidos pela CBF como Brasileirão.

De volta ao cenário nacional em 1979, na época considerada sua primeira participação no Campeonato Brasileiro, o clube rubro-negro teve Paulo Gonçalves no comando técnico, com destaque para jogadores como Itamar, Darcy Menezes e Bugre. Nos anos 1980, teve outras três presenças na primeira divisão, a última em 1987, quando disputou o Módulo Amarelo. Após essa temporada, ficou 23 anos longe da elite.

De volta em 2010, escapou do rebaixamento na última rodada com triunfo em confronto direto contra o Vitória-BA e ainda viu seu rival Goiás ser rebaixado. Esta foi, inclusive, a única vez que os times se encontraram no formato moderno da Série A, algo que volta a se repetir uma década depois, nesta temporada. Em 2011, teve sua melhor campanha, na 13ª posição, que lhe valeu uma vaga na Copa Sul-Americana.

A presença inédita em uma competição internacional foi protagonizada pelo trabalho de um time estrelado por Márcio, Rafael Cruz, Gilson, Jairo, Thiago Feltri, Agenor, Pituca, Robston, Anselmo e Juninho. Contudo, no ano seguinte acabou rebaixado na 19ª posição, com 30 pontos em 38 rodadas. Foram cinco anos de distância até o retorno em 2017, após o título da Série B um ano antes, porém rebaixado de forma imediata na última posição do campeonato.

Com um acesso emocionante em 2019, assegurado na última rodada com uma combinação improvável de resultados, depois de ter tido certa estabilidade dentro do G4 ao longo da Série B, além de um bom torneio em 2018, o Atlético retorna à elite com o desejo de não sair mais e seguir o seu trabalho de consolidação no cenário nacional.