O diálogo é um dos pilares estruturais de qualquer relação, principalmente para que o desenvolvimento e o aprendizado sejam construídos. Com o ensino não poderia ser diferente, mas até que ponto o conhecimento prévio dos alunos ajuda os professores e mostra resultados?

A estudante Andressa Martins, 15 anos, conta que essa evolução na relação entre professor e aluno ajuda muito na hora do aprendizado e abre espaço para conversar, o que faz com que ela exponha seus pensamentos e entenda melhor a matéria.

“É muito importante que os professores conversem com a gente. Dessa forma, criamos proximidade e amizade. Isso me ajuda muito, pois com essa confiança eu consigo falar onde tenho mais dificuldade”, conta a estudante.

Assista a reportagem:

Aprendizado aliado ao afeto

A diretora do Centro de Políticas Educacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Cláudia Costin, explica a necessidade da relação entre professor e aluno.

“O processo de ensino e aprendizagem deve ter como base a vivência que a criança e o adolescente têm. Parece fácil de falar, mas na prática é complicado. A educação deve se conectar com a vida daquele aluno, pois assim fica mais fácil de ele assimilar e aprender”, explica.

Cláudia ainda pontua que a preocupação em conhecer a realidade da criança e do adolescente pode permitir que o aluno expresse melhor suas dificuldades. Segundo a diretora, a criança aprende melhor quando se sente amada.

“Infelizmente o professor, tendo que dar aula em 4 escolas diferentes, não consegue focar na importância desse contato, e apenas transmitir o conhecimento não basta. O professor deve mostrar que acredita no aluno, que ele pode ter sucesso. Ter uma relação também de afeto ajuda muito no desenvolvimento”, reforça.

Na prática

Professor de História, João Pereira Nunes conta que em suas aulas prioriza entender o que o aluno necessita, para só depois fazer um plano de ensino. “Sempre que vou começar um conteúdo novo, gosto de perguntar para eles o que já sabem sobre o tema e a partir da resposta eu começo a fazer a explicação do novo material”, explica.

O professor ressalta também a importância de adaptar a forma de ensinar, sempre que necessário, para que o conteúdo chegue de forma efetiva a cada estudante. “Cada um tem o seu momento e sua forma de aprender. Alguns alunos conseguem entender melhor através da escrita, outros da audição e alguns assistindo aos conteúdos”, argumenta João Nunes.

A gestora do Colégio Estadual Jardim Das Cascatas, voltado para educação de estudantes quilombolas, Rita Cássia, destaca que um dos hábitos do local é que os professores conversem com os alunos para saber a melhor maneira de lidar com cada um.

“Cada professor tem uma forma de diagnosticar o aluno que chega até ele. Esse levantamento é feito durante o dia a dia. Depois realizamos um momento de discussão entre os professores para que, assim, consigamos da melhor forma ajudar os alunos”, frisa.

A gestora pontua ainda que esse diálogo com os alunos é orientado tanto pela coordenação de turno como pela coordenação pedagógica. “Vamos sempre abrir o diálogo, pois às vezes um aluno possui uma abertura maior com um professor que com outro. E para que todos os professores conheçam as necessidades e dificuldades por igual realizamos esse momento de partilha”.

Entender o público-alvo

Para a professora de Geografia, Priscila Queiroz, é fundamental que o professor saiba como é a realidade do adolescente antes de escolher uma metodologia de ensino.

“A importância de conhecer o seu público-alvo faz toda diferença no processo de ensino e aprendizagem. Conforme considera Paulo Freire, o diálogo é o que vai permear as relações entre professor e aluno. Então, se eu conheço meu aluno, isso faz com que o processo de aprendizagem se desenvolva da maneira mais adequada possível”, aponta.

O processo de interação entre o aluno e o educador, para Priscila Queiroz, se faz necessário, principalmente após a mudança de aulas presenciais para remotas. “A gente percebe que, apesar das dificuldades que existem no processo, grande parte dos alunos veio à escola e buscou novas estratégias. Eles realmente se esforçam quando há um dialogo”.

Da mesma forma, o engajamento dos alunos é um ponto que deve ser considerado, pois, com o trabalho desenvolvido no local, há reciprocidade por parte dos jovens. Como é o caso do estudante Vítor Alexandre, de 15 anos de idade. O adolescente conta que vê os professores como pessoas de confiança e que isso faz com que ele tenha ainda mais vontade de aprender.

“Quando o aluno é próximo ao professor a figura do professor muda. Ele deixa de ter aquela imagem chata e acaba se tornando um amigo. A gente começa a estudar mais e querer aprender realmente o conteúdo”, destaca.

Empolgado, o estudante declara que já consegue se ver alcançando os objetivos de vida que planejou através do estudo. “Acredito que estudando vou conseguir alcançar os meus objetivos. Os professores daqui ajudam muito com tudo, porque eles estão sempre nos incentivando a continuar”.

#Forma do Bem Sagres

Esta é a décima segunda reportagem da série inspirada no filósofo grego Platão. Ele descreve “A Forma do Bem” como uma “Forma” (Ideia) análoga ao Sol que seria uma manifestação física que, assim como o Sol, torna os objetos visíveis e gera vida sobre a Terra. O “Bem”, nesse conceito, excede a vida, permite transcender para o além. Esta é a forma que, segundo Platão, permite ao filósofo, em treinamento, avançar para um rei-filósofo.

A Forma do Bem Sagres é um espaço de diálogo com a sociedade, para alcançar as pessoas com conhecimento, reflexões e indagações. A cada semana, nos próximos três meses, apresentaremos novos conteúdos que vão te ajudar a ir além e a construir a sua navegação pelas rotas da transcendência.

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